Incontáveis são os
bosques na vastidão do mundo; e tão quilométricos são em suas formas, ora
geometrizadas por mãos humanas, ora lindamente rabiscadas - como num passatempo
- pelas mãos da natureza. Num desses bosques, ainda há pouco, caminhei imerso
na imensidão do bosque dos meus pensamentos. O relógio que conta o meu tempo
perdera a sua função vital; seus ponteiros tornaram-se inflexíveis; eles se
rebelaram por puro cansaço de sempre caminhar por um eterno círculo
vicioso. É que tanto tempo se passou desde a invenção da contagem do tempo, e,
apesar disso, eles, os ponteiros, nunca foram além do minúsculo espaço da caixa
do relógio. Enclausurados, abandonaram o posto porque sabiam que assim também
parariam a vida; e Ela parou: reticente... Se rindo da cilada em que metera a
raça humana. Agora, ninguém precisa da Esperança; é que a Esperança também
enclausura porque obriga a esperar. E quem espera demais, resigna-se. E para o
resignado, vida e morte são conceitos de sentido único; é um melancólico
"tanto faz, tanto fez". Eu, que ando com pavor da resignação que leva
à melancolia, olhei para o horizonte de um bosque sarapintado de árvores - tão
altas - que chegavam a fazer cócegas nas nuvens com as pontas de suas copas. E
então lancei um grito que ecoou até à última das árvores: "Vidaaa!...
Vidaaa!... Vidaaa!... - eis o som do meu grito ecoado que meus ouvidos somente
saboreou por três repetições, pois sou demasiado humano. "VIDA", o
meu único bem na grande pequenez de homens acumuladores de tanta coisa valiosa
que nada vale; a não ser uma insípida felicidade. Ah, como a tolice tem
dominado uma legião de gente fraca!... Espíritos cheios de um vazio ao qual
denominam "FELICIDADE". Mal sabem esses incautos que se deliciam no
cadáver de uma felicidade apodrecida pelo tempo. Mas, mesmo avisados da
insensatez, se riem do anunciador. Assim são os de felicidade superficial...
Aqueles cujos olhos brilham com o dourado do ouro; e esses mesmos olhos lançam
olhares frívolos para os agricultores que calejam suas mãos para que os
estômagos daqueles não padeçam de fome, esta vergonhosa calamidade que assola o
mundo onde são incontáveis os homens que penteiam a própria vaidade no reflexo
do ouro; mas o ouro não mata a fome, embora compre o alimento. Não, não é a
posse do ouro que torna esses homens mesquinhos e presunçosos, é a falta de
caráter. Assim como há o caráter virtuoso esculpido em rugosa pedra, também o
há esculpido de dourado e liso metal. E ambos têm o mesmo peso e valor.
Tão longe voou o meu espírito. Com
tantas reminiscências me deparei. E, ai! Como tudo continua tão igual. A
humanidade caminha com pés de "Curupira".
Éd
Brambilla: filosófico. A humanidade tem pés de Curupira.
08/11/2015.
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