"Miauuu" - ouviu de repente a
moça Janaína quando passava a alguns metros de um beco frio e sombrio.
Era um miado fraquinho; as últimas
forças da gatinha. Quando pressentiu que alguém de coração bom se aproximava,
ela soltou, não um miado costumeiro, mas um pedido de socorro:
"Socorro", fez a gata. E não há outro significado para o condoído "miauuu"
da pobre siamesa. Animais têm extinto e sabem a quem pedir socorro.
Janaína aproximou-se da gata. A felina,
toda dócil e imbuída de carência, subiu ao colo da moça e aninhou-se como se
estivesse encontrado o próprio útero de sua mamãe Dona Gatona.
Não cabe aqui neste texto falar de quem
a abandonou, de suas asperezas ou sentimentos desumanos. Para a pequena gata,
que deve ter em torno de uns dois meses, isso já é passado. Quero é falar
dela, que já até ganhou um lindo e pomposo nome: Édith Piaf de Beauvoir. Eu até
tentei convencer de que ela é a "fuça" de Clarice Lispector. Mas não
houve jeito. Estefânia - a segunda a adotar a gata - e Janaína representam a
maioria. Ficou Édith e pronto.
Édith é dócil e despachada, também.
Felinos lá são bobos?! Aboletou-se da casa no primeiro instante em que chegou
ao novo lar. Ela é uma “gatinha-vaso”: onde é posta, fica. Veio com
dor-de-barriga, a pobrezinha. Estefãnia foi a escolhida para o cargo de mãe.
Édith quis assim. Há que se respeitar. Então ficou decidido que ela e Estefânia
dividirão o mesmo quarto. E como mãe zelosa, lá foi Estefânia, no meio da
madrugada, arranjar terra para as necessidades da criaturinha. Gatos são
higiênicos e não gostam de deixar seus dejetos à mostra. Problema resolvido.
Porém, surgiu uma situação que ainda
levará um tempinho para a resolução: Lilica e Leleca, "as yorks", que
dividem quarto comigo, não gostaram nadinha da nova e estranha (para elas)
companhia. Leleca, como sempre, borrou-se de medo com o primeiro bufar da gata.
Lilica, ah, essa Lilica! Essa enfrenta até "pastor alemão" (cachorro,
gente!). A "york" com alma de "pitbull" partiu para cima da
gata. E o bufar dela foi engolido durante uma carreira para debaixo da primeira
cama que encontrou,
Estefânia, a nova mãe, tratou de providenciar consulta com o veterinário, vermífugos, castração, caixa de areia e
areia própria para os bichanos.
A família diversificada aumentou.
"O beco sem saída" de Édith Piaf de Beauvoir encontrou uma brecha na
ínfima possibilidade da vida animal. Havia uma luz no fim do beco. E a luz tem
o nome Janaina.
Seja-bem vinda ao novo lar, Dithinha!
EXPLICAÇÃO
DO NOME DA GATINHA:
"Édith Piaf", porque a célebre cantora francesa recebera a alcunha de
"piaf" porque tinha voz de passarinho; ela não cantava, chilrava....
E a gatinha mia com doçura de passarinho... "de Beauvoir", porque
Simone de Beauvoir foi uma filósofa "existencialista" (o que existe é
o agora, algo parecido com o Carpe Diem)... E a gata é assim: parece não se
importar com o depois... Ela vive o
momento... Não quer saber o que será dela daqui a alguns instantes...
Éd
Brambilla. CRÔNICA. A "GATINHA DO BECO" QUE ENCONTROU UMA SAÍDA.
20/11/2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário