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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A "GATINHA DO BECO" QUE ENCONTROU UMA SAÍDA

"Miauuu" - ouviu de repente a moça Janaína quando passava a alguns metros de um beco frio e sombrio.
Era um miado fraquinho; as últimas forças da gatinha. Quando pressentiu que alguém de coração bom se aproximava, ela soltou, não um miado costumeiro, mas um pedido de socorro: "Socorro", fez a gata. E não há outro significado para o condoído "miauuu" da pobre siamesa. Animais têm extinto e sabem a quem pedir socorro.
Janaína aproximou-se da gata. A felina, toda dócil e imbuída de carência, subiu ao colo da moça e aninhou-se como se estivesse encontrado o próprio útero de sua mamãe Dona Gatona.
Não cabe aqui neste texto falar de quem a abandonou, de suas asperezas ou sentimentos desumanos. Para a pequena gata, que deve ter em torno de uns dois meses, isso já é passado. Quero é falar dela, que já até ganhou um lindo e pomposo nome: Édith Piaf de Beauvoir. Eu até tentei convencer de que ela é a "fuça" de Clarice Lispector. Mas não houve jeito. Estefânia - a segunda a adotar a gata - e Janaína representam a maioria. Ficou Édith e pronto.
Édith é dócil e despachada, também. Felinos lá são bobos?! Aboletou-se da casa no primeiro instante em que chegou ao novo lar. Ela é uma “gatinha-vaso”: onde é posta, fica. Veio com dor-de-barriga, a pobrezinha. Estefãnia foi a escolhida para o cargo de mãe. Édith quis assim. Há que se respeitar. Então ficou decidido que ela e Estefânia dividirão o mesmo quarto. E como mãe zelosa, lá foi Estefânia, no meio da madrugada, arranjar terra para as necessidades da criaturinha. Gatos são higiênicos e não gostam de deixar seus dejetos à mostra. Problema resolvido.
Porém, surgiu uma situação que ainda levará um tempinho para a resolução: Lilica e Leleca, "as yorks", que dividem quarto comigo, não gostaram nadinha da nova e estranha (para elas) companhia. Leleca, como sempre, borrou-se de medo com o primeiro bufar da gata. Lilica, ah, essa Lilica! Essa enfrenta até "pastor alemão" (cachorro, gente!). A "york" com alma de "pitbull" partiu para cima da gata. E o bufar dela foi engolido durante uma carreira para debaixo da primeira cama que encontrou,
Estefânia, a nova mãe, tratou de providenciar consulta com o veterinário, vermífugos, castração, caixa de areia e areia própria para os bichanos.
A família diversificada aumentou. "O beco sem saída" de Édith Piaf de Beauvoir encontrou uma brecha na ínfima possibilidade da vida animal. Havia uma luz no fim do beco. E a luz tem o nome Janaina.
Seja-bem vinda ao novo lar, Dithinha!


EXPLICAÇÃO DO NOME DA GATINHA: "Édith Piaf", porque a célebre cantora francesa recebera a alcunha de "piaf" porque tinha voz de passarinho; ela não cantava, chilrava.... E a gatinha mia com doçura de passarinho... "de Beauvoir", porque Simone de Beauvoir foi uma filósofa "existencialista" (o que existe é o agora, algo parecido com o Carpe Diem)... E a gata é assim: parece não se importar com o depois...  Ela vive o momento... Não quer saber o que será dela daqui a alguns instantes...


Éd Brambilla. CRÔNICA. A "GATINHA DO BECO" QUE ENCONTROU UMA SAÍDA. 20/11/2015.

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