ALMa RaBiScAdA

terça-feira, 4 de agosto de 2015

A CAFETEIRA TERRORISTA

Café de verdade é o que eu costumo preparar no coador de pano, aparado por um tripé (o meu é feito de ferro); o pó não pode ser remexido, e a água não deve esquentar até borbulhar; é um deleite o ritual deste café: o coador deve ser mergulhado antes em água quente, assim como o recipiente - de preferência de louça - que receberá a delícia cheia de cafeína em seu interior. Apesar desse ritual terapêutico, ‘inventaram’ de inventar a cafeteira elétrica!... Depois de muita resistência, do desprezo por uma ‘Dolce Gusto’ (uma máquina de café e cappuccino ultramoderna que fica perfeita como artigo de decoração na cozinha), que mais parece um lindo robozinho vermelho, eis que a casa ganhou de presente, ‘ela’, a cafeteira elétrica: toda faceira, pretinha, da cor do café; uma embusteira de alto escalão. Segui todas as instruções para o preparo do melhor café do mundo (promessa estampada na embalagem da dita cuja). No finalzinho do processo, o suporte do filtro de papel (que abre e fecha como uma pequena porta), ao ouvir-me dizer: -Que trambolho mais lento!, encheu-se de cólera e se lançou em minha direção. -Meu Deus! Esta cafeteira só pode ter sido comprada de Berzebu!" - exclamei alto. Depois de uma hora inteira limpando a "berzebusisse", tudo voltou a ser ‘como dantes na casa de Abrantes’. Lilica & Leleca?! Ambas, sentadas uma do lado da outra, em frente à porta de acesso da cozinha, olhavam e escutavam curiosas as sandices que eu verbalizava contra a filhotinha do tinhoso. Dava até para ver um daqueles balões de pensamento sobre as cabeças das ‘yorks'; e o pensamento delas era o mesmo: "Tio Éd, se fosse leite com chocolate, deixaríamos tudo limpinho com nossas línguas ágeis e lambedoras; mas é pó de café, tio! Você vai ter de limpar tudinho sem a nossa ajuda..." Sorri para as caninas e agradeci a boa intenção. O que eu fiz depois?! Outro café... No coador de pano, claro. E despejei o líquido dentro do recipiente de vidro da cafeteira. É que dá para deixar a cafeteira ligada para o café ficar sempre quentinho.



ÉD BRAMBILLA. CRÔNICA. A CAFETEIRA TERRORISTA. 23.07.2015.

Nenhum comentário: