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sábado, 1 de junho de 2013

A Gafe e o Verbo Sucumbir


Era de manhã muito cedo quando o telefone tocou; levantei em um golpe de susto. Atendi ao telefone ainda meio sonolento e balbuciei um “Alô!” quase inaudível. Do outro lado da linha um parente: “Edvaldo, é você?” – perguntou-me. “Sim, sou eu mesmo” – respondi. “Desculpa eu ligar para o vosso (ele costuma usar o pronome vosso sem a menor cerimônia) número assim tão cedo. É que eu não tenho uma notícia muito boa para lhe dar” – continuou o parente com uma voz tão grave quanto um fado de despedida. “Santo Deus! O que aconteceu parente?” – perguntei-lhe - ao passo em que minha mente já estava toda voltada para minha mãe. A gente sempre pensa na mãe toda vez que alguém liga para dar uma notícia não muito boa, principalmente quando esse alguém nos fala todo cheio de cuidados. “Minha mãe sucumbiu hoje de madrugada” – enfim disse-me ele. “Su – cum – biu?” – pensei. Tentei desesperadamente buscar na memória o significado exato do verbo sucumbir. “Meu Deus, o que exatamente acontece com uma pessoa que sucumbe?” – perguntei em pensamento para mim mesmo. “A mãe dele sucumbiu! E agora, o que digo para ele?” O problema é que não havia tempo suficiente para desenrolar os significados que estão contidos na palavra sucumbir. O jeito era perguntar de qualquer jeito mesmo. Então, com toda a minha sinceridade, comovido e sem mesmo saber exatamente sobre os motivos de alguém que sucumbe, perguntei-lhe: “E agora que vossa mãe está sucumbida, o que você pretende fazer com ela?” Com total indignação na voz, respondeu-me: “Enterrá-la, ora! O que mais eu poderia fazer?” Valha-me Deus! A mãe do parente havia morrido e a notícia nesse momento é que se fazia. Juro que tentei me conter, mas foi em vão; uma crise de riso tomou conta de mim. Eu só conseguia pensar na palavra “sucumbiu”, nada mais. O parente simplesmente desligou o telefone, afinal não havia nada a se fazer a não ser isso mesmo. No outro dia telefonei-lhe para os pedidos de desculpas e explicar o que fosse explicável. Ficou tudo bem. E que, por Deus!, que ninguém – jamais - sucumba perto de mim, senão não aguento.

Éd Brambilla. CRÔNICA. A GAFE E O VERBO SUCUMBIR. 25/05/2013.

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