Ah, agora sei, por experiência própria, que é assim: o oceano que banha o
litoral cearense, o Atlântico, é o mesmo que banha o litoral paulista
(caprichos de Dona Geografia, esta doida), porém, sem a menor discussão, os
mares são completamente outros. De mar paulista eu entendo o que se segue: água
fria e areia úmida que me estremecem os sentidos. É quando recuo e apenas
contemplo a paisagem – circunspecto - como se observasse uma pintura de Claude
Monet; coisa pura de admiração apenas. Mas, ah, o mar cearense! Esse é para
viver, e lamber suas delícias como se lambe o restinho de mel na colher. A água
surpreendentemente morna (é importante ressaltar sobre o verão, o ápice dele)
envolve a pele e dá a sensação de uma gostosa roupa de algodão acetinada. Será que
essa beleza tem a ver com o fato de esse litoral ser localizado muito próximo
da linha do equador? E se for verdade que não existe pecado do lado de baixo
dessa linha, é pecado deliciar-se ao lado dela? Pois que seja! Deliciar-se em
águas cearenses é um pecado que já vem atrelado a um perdão. A própria alegria
no rosto e o calor no coração já são uma prece e um prenúncio de salvação. A
propósito, depois desse primeiro contato com águas de algodão e cetim, no
caminho que fiz de volta para casa, dei de encontro como uma placa que
indicava: Rua do Pecado. Então tive a certeza: É permitido pecar!
Éd Brambilla. Crônica. O PECADO FICA MUITO PRÓXIMO DA LINHA DO EQUADOR.
13 de fevereiro de 2013.
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