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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

LILICA E A SOCIABILIDADE

O hábito de levar Lilica, a yorkshire, para passear, tem me rendido curiosas reflexões sociais de ordem canina. Moro em um condomínio com diversas torres, e os caninos da raça yorkshire são os campeões em quantidade, muito provavelmente pelo fato de serem doceis e pequeninos. Dócil? Acho que esta qualidade não se aplica muito a Lilica. Hoje, em mais um passeio vespertino, ela quase arrancou o dedo de uma senhora que passeava com um basset. É que ela está em final de cio. Não, não a senhora, a Lilica minha gente. O nome da desavisada? Não sei. Mas sei o nome do basset: Thor. Também houve um contato com o Bud, este um york também. E digo mais: Lilica gostou do Bud, pois o encontro durou mais ou menos uns dez minutos. Até tentei desviar o caminho para não ter que responder às costumeiras perguntas lançadas pelos donos. Mas acredito que seria uma afronta dois donos de cachorros ficarem feito postes um em frente ao outro, enquanto seus peludos se refestelam. Há que ter um mínimo de diálogo. A fuga fora impossível, a york doida me arrastou pela calçada ao encontro do moçoilo. Bud ainda é um meninão de um ano e sete meses. Lilica, com seus quase cinco anos, deve ser pedófila, acredito eu. Da outra ponta do encontro, vinha o dono do Bud, também de arrasto. E como naqueles encontros de novela que se passam na praia, os yorks corriam um para o outro, com olhos brilhantes, respiração compassada e latidos de amor. O nome do dono? Não faço a menor ideia, mas sei que ele mora na torre Violeta. Depois das juras de amor com Bud, mais um encontro, dessa vez com Julie, outra york. Lilica mordeu a orelha dela. A dona da cadelinha a abraçou e, exasperada, a consolava: "Não foi nada bebê, não foi nada; mamãe está aqui!" - e a mim, que fiquei feito um candelabro, só restou-me dizer: "Perdão senhora, é que Lilica tem uma certa hostilidade por meninas." A mulher ignorou completamente meu pedido de perdão, olhou para Lilica e proferiu: "Malvada, você é uma menina malvada!". As duas, mulher e cadela, viraram cara e focinho e foram embora muito zangadas. Olhei para Lilica, que fitava-me com sua cara costumeira: dentes inferiores levemente projetados para fora, olhos de japonesa, uma orelha levantada e a outra em pé, e uma 'xuxinha' de margarida no topo da cabeça. "Acho que elas não gostaram de você Lilica; é melhor voltarmos para casa" - conclui. Preciso descobrir urgente um horário menos movimentado, com menos cachorros e donos e encontros e mordidas.


Éd Brambilla. CRÔNICA. Lilica e a Sociabilidade. 01/02/2013.

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