LILICA E AS CORUJAS TONTAS
Imaginem a cena: uma cadelinha yorkshire correndo enlouquecida e
sem rumo, um casal de corujas sobrevoando em zigue-zague a pobrezinha, com
direito a rasantes e pios de gelar a alma, e eu, que nunca aprendi a lidar com
corujas, berrando e correndo atrás de todo mundo. Teria sido apenas mais um
passeio corriqueiro pelo condomínio com Lilica, a yorkshire, se não existissem
corujas. Justo eu, que amo as corujas. Por outro lado, fiquei feliz com a
existência de carros; foi justamente debaixo de um que a cadelinha encontrou
abrigo. Uma das corujas passou raspando sobre o teto do
automóvel-esconderijo-de-york-doido, e a outra, que devia estar mais
interessada na peluda fugitiva do que no próprio rumo, deu de corpo inteiro no
vidro da janela do carro. Não, ninguém precisa entrar em desespero,
principalmente os amantes de corujas; ela escorreu pela lataria, caiu um pouco
tonta no chão, girou feito cachorro doido que tenta morder o próprio rabo e
alçou voo novamente quando ouviu o chamado da outra coruja (essa outra me
pareceu tonta de forma pejorativa mesmo). Difícil foi convencer Lilica a sair
do esconderijo. Ah, não posso deixar de relatar que havia plateia para o
espetáculo. Vários moradores dos apartamentos vizinhos assistiam a tudo de suas
janelas de sala; todos mudos e com “cara de paisagem”. Desejo que nenhum deles
precise um dia lidar com corujas, sejam elas tontas ou não. Das duas uma:
quando as corujas avistaram a york, ou elas agiram para defender um ninho com
filhotinhos (estes, tontinhos também) ou imaginaram a coitadinha da canina em
uma bandeja com uma maça na boca. Se corujas gostam de maçã isso eu não sei,
mas que elas devem gostar de york-doido isso é bem provável; e se o motivo
tiver sido os filhotes tontos, agora entendo a expressão “Mãe-Coruja”.
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