Maria
Desolada sentou-se na cadeira e, resignada, apoiou uma das mãos no queixo,
provavelmente com medo do pobrezinho estatelar-se no chão. Do outro lado da
mesa, Maria Tapeação, de semblante pintado com o mais puro dos vernizes, falava
sobre tarefas não feitas e enganações. Maria Desolada tentava entender se o
ocorrido era verdade ou uma grande brincadeira – de mau gosto obviamente – por
parte da amiga. Amiga? Não, as duas jamais poderiam ser amigas, nem mesmo o
fato de ambas serem Maria acalentava uma união no patamar da amizade. Maria
Tapeação falou, falou, falou, e, na conclusão de tudo, tapeou, tapeou, tapeou.
As duas se despediram e Maria Desolada estava aflita para por pra fora o grito
de horror que lhe sufocava a alma. Assim que a porta fora devidamente fechada e
bem trancada, separando-as por uma barreira concreta e bem firme, por Deus,
Maria Desolada ficou infinitamente mais desolada que o próprio sobrenome. Não
havia palavra de conforto que lhe acalmasse os nervos. João Bobão, irmão de
Maria Desolada, também presente na cena, tentou de tudo para confortá-la: chá
de camomila, erva-doce, cidreira, espanta demônios... Tudo em vão. O que a
resignada mulher precisava mesmo era chorar, chorar, chorar... Até secar-lhe os
reservatórios. Depois de algum tempo, Maria Desolada, já bastante aliviada,
voltou a si e lembrou-se do velho ditado que lhe sumira da memória por alguns
momentos: o que não tem remédio, remediado está. Ah sim, já estava me
esquecendo de relatar o ocorrido e... Sinceramente? O melhor que se pode fazer
é botar uma pedra por cima do assunto. Bom, preciso ir, lembrei-me que amanhã é
dia de lavar a geladeira.
Brambilla; Éd. Crônica. A MULHER RESIGNADA. 21/03/2012.
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