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quinta-feira, 22 de março de 2012

A MULHER RESIGNADA


Maria Desolada sentou-se na cadeira e, resignada, apoiou uma das mãos no queixo, provavelmente com medo do pobrezinho estatelar-se no chão. Do outro lado da mesa, Maria Tapeação, de semblante pintado com o mais puro dos vernizes, falava sobre tarefas não feitas e enganações. Maria Desolada tentava entender se o ocorrido era verdade ou uma grande brincadeira – de mau gosto obviamente – por parte da amiga. Amiga? Não, as duas jamais poderiam ser amigas, nem mesmo o fato de ambas serem Maria acalentava uma união no patamar da amizade. Maria Tapeação falou, falou, falou, e, na conclusão de tudo, tapeou, tapeou, tapeou. As duas se despediram e Maria Desolada estava aflita para por pra fora o grito de horror que lhe sufocava a alma. Assim que a porta fora devidamente fechada e bem trancada, separando-as por uma barreira concreta e bem firme, por Deus, Maria Desolada ficou infinitamente mais desolada que o próprio sobrenome. Não havia palavra de conforto que lhe acalmasse os nervos. João Bobão, irmão de Maria Desolada, também presente na cena, tentou de tudo para confortá-la: chá de camomila, erva-doce, cidreira, espanta demônios... Tudo em vão. O que a resignada mulher precisava mesmo era chorar, chorar, chorar... Até secar-lhe os reservatórios. Depois de algum tempo, Maria Desolada, já bastante aliviada, voltou a si e lembrou-se do velho ditado que lhe sumira da memória por alguns momentos: o que não tem remédio, remediado está. Ah sim, já estava me esquecendo de relatar o ocorrido e... Sinceramente? O melhor que se pode fazer é botar uma pedra por cima do assunto. Bom, preciso ir, lembrei-me que amanhã é dia de lavar a geladeira.


Brambilla; Éd. Crônica. A MULHER RESIGNADA. 21/03/2012.

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