TRANSCRIÇÃO (por Éd Brambilla) DE UM
TRECHO DE UMA ENTREVISTA COM O SOCIÓLOGO ZYGMUNT BAUMAN, POLACO, PARA O CANAL
"FRONTEIRAS DO PENSAMENTO", NO YOUTUBE. BASTANTE PERTINENTE.
O MUNDO PÓS MODERNO: A CONDIÇÃO DO INDIVÍDUO
A AMBIVALÊNCIA DA VIDA
[...] Um viciado do Facebook me segredou... Não segredou, de fato, mas
gabou-se para mim... De que havia feito 500 amigos em um dia... Minha resposta
foi que eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos... Eu não consegui isso...
Então, provavelmente, quando ele diz "amigo" e eu digo
"amigo", não queremos dizer a mesma coisa... São coisas diferentes...
Quando eu era jovem, eu nunca tive o conceito de "redes"... Eu tinha
o conceito de laços humanos, de comunidades, esse tipo de coisa, mas não
"redes"... Qual é a diferença entre comunidade e rede?... A
comunidade precede você... Você nasce numa comunidade... Por outro lado, temos
a rede... O que é uma rede?... Ao contrário da comunidade, a rede é feita e
mantida viva por duas atividades diferentes: uma é conectar e a outra é
desconectar... E eu acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o tipo de
amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí... Que é tão fácil de
desconectar... É fácil conectar, fazer amigos... Mas o maior atrativo é a
facilidade de se desconectar... Imagine que o que você tem não são amigos
'online', conexões 'online', compartilhamento 'online', mas conexões
'off-line', conexões de verdade, frente a frente, corpo a corpo, olho no
olho... Então, romper relações é sempre um evento muito traumático... Você tem
que encontrar desculpas, você tem que explicar, você tem que mentir com
frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro porque seu parceiro diz que
você não tem direitos, que você é um porco, etc.... É difícil... Mas na internet
é tão fácil, você só pressiona 'delete' e pronto... Em vez de 500 amigos, você
terá 499... Mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros
500... E isso mina os laços humanos... Os laços humanos são uma mistura de
bênção e maldição... Benção porque é realmente prazeroso, muito satisfatório,
ter outro parceiro em quem confiar e fazer algo por ele ou ela... É um tipo de
experiência indisponível para a amizade no Facebook... É uma bênção, e eu acho
que muitos jovens não têm nem mesmo consciência do que eles realmente perderam,
porque eles nunca vivenciaram esse tipo de situação... Por outro lado, há a
maldição, pois quando você entra no laço, você espera ficar lá para sempre...
Você jura, você faz um juramento: até que a morte nos separe, para sempre... O
que isso significa?... Você empenha o seu futuro... Talvez amanhã, ou no mês
que vem, haja novas oportunidades... Agora, você não consegue prevê-las e você
não será capaz de pegar essas oportunidades porque você ficará preso aos seus
antigos compromissos, às suas antigas obrigações... Então, é uma situação muito
ambivalente e, consequentemente, um fenômeno curioso dessa pessoa solitária
numa multidão de solitários... Estamos todos numa solidão e numa multidão ao
mesmo tempo... De que há dois valores essenciais que são absolutamente
indispensáveis para uma vida satisfatória, recompensadora e relativamente
feliz: um é segurança e o outro é liberdade... Você não consegue ser feliz,
você não consegue ter uma vida digna na ausência de um deles, certo?...
Segurança sem liberdade é escravidão... Liberdade sem segurança é um completo
caos, incapacidade de fazer nada, planejar nada, nem mesmo sonhar com isso...
Então, você precisa dos dois...Entretanto, o problema é que ninguém ainda, na
história e no planeta, encontrou a fórmula de ouro, a mistura perfeita de
segurança e liberdade...Cada vez que você tem mais segurança, você entrega um
pouco da sua liberdade... Não há outra maneira... Cada vez que você tem mais
liberdade, você entrega parte da sua segurança... Então você ganha algo e você
perde algo [...]
Entrevista. Trecho (O MUNDO PÓS MODERNO: A CONDIÇÃO DO INDIVÍDUO / A
AMBIVALÊNCIA DA VIDA). Zigmunt Bauman. Extraído de https://www.youtube.com/watch?v=POZcBNo-D4A
Transcrição para esta postagem: Éd Brambilla
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