Quando descobri que estava "doente de amor" e não "amando",
restaram-me duas opções um tanto óbvias: SER CORROÍDO POR UMA PSEUDO-ESPERANÇA
ou MERGULHAR NO FUNDO DE MINHA ESSÊNCIA. Com muito esforço e tempo, consegui
direcionar meu olhar para a segunda opção; resgatei a mim mesmo, e, como um
valente salva-vidas, com um braço enlacei o meu pescoço e com o outro
impulsionei corpo e Espírito para a superfície. Como no "Mito da Caverna", de Platão, quase enlouqueci com a forte luz do
dia; quase retornei várias vezes para os recônditos da alma. Ah, mas que força
medonha se criou em mim com o passar dos anos! Foi como se todos os sentimentos
bons e também os disfarçados de bons, de tanto se chocarem, tivessem criado uma
nova potência em meu ser, cujo nome não se pode batizar. Tudo o que se
transforma dentro de cada pessoa é inominável, pois se trata de uma redenção de
um deus-não-sei-o-quê-interior e
não-universal. É de cada um e para cada um essa tal potência; é como identidade
digital, não existe uma que seja igual à outra. E foi a partir dessa
consciência que os meus olhos voltaram a sentir prazer com os raios do sol; que
a minha Vontade, pregada com não sei quantos pregos de desesperança, de tanto
esperar um socorro externo, rasgou-se toda para libertar-se e, ainda que
destroçada e sangrando nas arestas, arrastou-se heroicamente até encontrar um
pequeno arbusto, que, apesar de sua pequena copa, sabia amar com veemência. E
foi com esse sopro de amor que minha Vontade, aos poucos, conseguiu se regenerar,
ainda que a parca sombra do valente arbusto tivesse de ser dividida com tudo o
que estava doente em mim. E não eram poucos os sentimentos corrompidos que
precisavam de um pouco de refresco, de um remendo aqui e outro ali. Enquanto meu
Espírito ressonava, Vontade e Potência-Minha regeneraram todos os cortes e
recortes de minha Essência e me devolveram o Todo que eu tinha abandonado por puro
medo de duelar com a Vida. Foi então que, rindo de aleluia, tive um insight: a Vida jamais quis duelar comigo;
como é que se pode duelar com o que nos permite respirar?! "Insano” – refleti,
"Eu ESTOU insano!..." E me pus a rir até me doer o estômago. E comigo
se puseram a rir todos os meus sentimentos, os meus medos, o Espírito... Até minha Vontade mijou-se toda de tanto gargalhar. Tudo girava num redemoinho de
expurgação. Tudo o que era ruim, o redemoinho expurgava para uma espécie de
labirinto onde aprisiona-se tudo aquilo que faz a vida sangrar em dor. Quando o
redemoinho se dissipou, o que ficou foi o cerne puro do que me move. A Vida não
havia me abandonado nem um segundo sequer. Ela sempre esteve dentro de mim. Eu
é que, "doente de amor", passei a
enxergá-la de fora para dentro. Eu estava literalmente fora de mim e,
ingenuamente, desafiava a minha própria vida. Ah, que alívio foi quando meu Espirito
– adormecido – abriu os olhos num puro bocejo de uma pessoa que acorda e diz
"Estou pronta de novo!" e percebeu que voltara a olhar de dentro para
fora. "Estou salvo" – pensei. E tanto os olhos físicos quanto os
metafísicos deixaram mais de não sei quantas mil lágrimas escorrem pela face e,
da face, por todo o corpo – o físico e o metafísico. -EU CONSEGUI! NÓS
CONSEGUIMOS! – gritava a boca calada a tanto tempo. -Agora SOU novamente; Vontade-Minha
está aqui dentro do meu peito, até então ressequido, fazendo o sangue jorrar
incessantemente do coração para o meu TODO..." – sussurrei para dentro de
mim mais lentamente, mais convicto de que eu tinha finalmente me livrado da
sobrevida e o que me movia novamente era a minha boa e velha companheira VIDA.
Eu já podia caminhar conforme minha Vontade novamente
LIBERDADE é o nome do que me habita agora e,
dentro de mim, sou totalmente livre para ser o que a minha imaginação me
permite ser.
Bem-vindas ao seu verdadeiro lar, Vontade e Força minhas!
Bem-vindas ao seu verdadeiro lar, Vontade e Força minhas!
Éd Brambilla. CRÔNICA. Ou seria uma Carta (?). AUTORRETRATO. 10.01.2016.
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