O médico relata a evolução do tratamento de minha mãe, aos cochichos; ela, de orelhas em pé e os olhos furtivos. Quando o médico nos deixou a sós, minha mãe me peguntou num tom de resignação, com a "carinha" mais preocupada que já vi na vida:
-Eu vou morrer?!
Rapidamente, respondi, com a voz mais serena que já tive:
-Claro que vai, querida... Eu, você, o médico e todo o mundo que está vivo. Mas não agora... Só quando Deus quiser...
-Ah, então "tá" bom! - respondeu ela aliviada.
Complementei:
-Pois então trate de desfazer essa cara de tristeza porque você só vai morrer quando estiver bem velhinha... Já cansada de tanto viver, certo?
Botei os meus óculos de sol nela e daí pra frente foi só palhaçada... Com direito a massagem, penteado de cabelo esquisito, etc.
Bom, nem preciso dizer que fui praticamente expulso do hospital.
Éd Brambilla. CRÔNICA. No hospital. 20.10.2014.
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