
Suponho aqui uma inversão de valores (pura metáfora): imaginemos a Literatura e a Filosofia como poderosos princípios ativos para a fabricação de entorpecentes extremamente viciantes, que causem uma verdadeira revolução na personalidade de seus usuários. Agora que o contexto tornou-se possível, ainda que do ponto de vista imaginativo, preciso confessar que, sim, sou um usuário assíduo de diversos entorpecentes literários e filosóficos, tanto dos clássicos como dos modernos. Lamento dizer, principalmente para as diversas terapias de recuperação existentes atualmente no mercado, que o meu vício não tem mais cura. Ele só tende a crescer. Já fatigado de algumas "drogas do conhecimento" muito comuns entre os usuários dessa modalidade da qual estou dissertando, resolvi experimentar algumas muito antigas e muito poderosas, como as gregas ‘Homero’, ‘Esopo’, ‘Ésquilo’, ‘Sófocles e ‘Platão’, fabricadas exatamente na ordem que descrevi; as romanas ‘Petrônio’, ‘Cícero' e 'Sêneca’ (apesar desta última ser originária da Espanha), também fabricadas na ordem descrita. E para que não me acusem de não ser um “usuário literário-filosófico" bastante globalizado, andei experimentando drogas de diversas partes do mundo, como a holandesa ‘Rotterdam’, muito proibida até hoje, que causa sérios danos ao senso comum; as francesas ‘Descartes’ (Iluminista) e ‘Flaubert’ (Realista), que são bastante alucinógenas, portanto, muito melhor que ‘cocaína’; já a alemã ‘Nietzsche’ é dez vezes melhor que o ‘crack’: alto grau de dependência já na primeira "folheada"; é usar uma única vez e perder-se para sempre; a Iluminista 'Rousseau' (precursora do Romantismo), apesar de sua origem suíça, faz muito sucesso, juntamente com as francesas citadas anteriormente, entre os franceses, desde o seu surgimento. Das drogas inglesas ‘Shakespeare’ e ‘Morus’ (esta da mesma época da holandesa 'Roteterdam', ambas Humanistas), constatei que a primeira é muito semelhante às gregas, principalmente as ‘Ésquilo’ e ‘Sófocles’; já a segunda é muito semelhante à francesa ‘Descartes’; e por fim, a também inglesa ‘Bunyan’ pode perfeitamente ser substituída pela ‘Morus’. Das drogas russas, recomendo a 'Tolstói', que causa uma certa melancolia literária. As italianas 'Alighieri' e 'Maquiavel' (esta Renascentista) promovem um alto grau de desmitificação mental, sendo a segunda conhecida na contemporaneidade como 'A Maquiavélica', tamanho é o seu poder para a compreensão dos mecanismos que dão vida à "política". A tcheca 'Kafka' ajuda a compreender os motivos que levam a modernidade a desprezar os seus sujeitos menos favorecidos na hierarquia do "status quo". A africana 'Mia Couto' é uma das minhas preferidas, confesso... Até me inspirou a escrever um conto alicerçado no Realismo Fantástico, um estilo literário que têm como "uma" de suas precursoras uma droga 'colombiana' poderosíssima, a 'Gárcia Márquez', muito conhecida como 'Gabo'. Mas não pensem que as drogas "brazucas" são “chazinhos-de-cogumelo”, têm umas que deixam muitas importadas no "chinelo": a ‘Lispector’ (apesar da origem ucraniana) é a mais forte de todas, pelo menos em minha opinião, obviamente (cada um é livre para eleger a sua melhor droga); a barroca ‘Gregório de Matos’, conhecida como "Boca do Inferno", causa aos seus dependentes acidez e sarcasmo aos extremos; a ‘Lima Barreto’ é de enlouquecer na primeira experiência. Eu poderia citar muitas outras drogas que utilizo, mas não quero me alongar... E para terminar, para provar que o meu caso é sério, das drogas portuguesas, as que eu mais tenho usado são: a moderníssima ‘Saramago’, muito semelhante à brasileira ‘Lispector’; a ‘Gil Vicente’, também muito popular no Humanismo, causa forte ironia em seus usuários (muito parecida com a ‘Gregório de Matos’); a ‘Eça de Queirós’ causa alguns distúrbios muito semelhantes aos causados pela francesa ‘Flaubert’; e para não ser metralhado pelos amantes das drogas em forma de "epopeias", não posso deixar de citar a 'Camões', muito semelhante à italiana 'Alighieri', em sua concepção.
É certo que a indústria terapêutica anti-entorpecentes tem se mostrado extremamente eficaz no tratamento a todas as drogas acima citadas.
“POR FAVOR, NÃO ME AJUDEM! DEIXEM EU ME AFUNDAR NESTE MEU VÍCIO TÃO PRAZEROSO. A VIDA É CURTA... QUERO MAIS É UMA OVERDOSE DE CONHECIMENTO!”
Éd Brambilla. CRÔNICA. O PERIGO DAS DROGAS LITERÁRIAS E FILOSÓFICAS. 22/03/2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário