
Não, eu não quero mais em minha vida o reflexo d'alma dos grandes gênios da humanidade. Quero agora, alma minha, o vazio rastejante do glamour daqueles que desfilam nos programas de "programa", os que sustentam a televisão. Quero ser a própria melodia tosca da nova música em sintonia com meus glúteos avantajados; quero a força e o espírito grandioso dos ases do futebol; quero a essência esfuziante do brilho dos olhos de meus futuros súditos a cada novo drible genial; quero a interpretação bocejante das tardes platinadas - malhada e engessada - a presentear seus telespectadores-marionetes; quero o homem de mecha branca nos cabelos, contando, com o semblante grave, em horário nobre, minha difícil caminhada pelos campos da vida até alcançar a plenitude e, do outro lado da matéria, eu, com olhos marejados e a voz embargada, feliz por ter vencido, por ter me tornado um novo herói de uma nação, feliz porque minha história é sublime em meio a um povo que não conhece a dor aguda dos espinhos que permeiam o caminho de um vencedor; um povo que não tem motivos para chorar, simplesmente porque vive em uma realidade de glórias; um povo que levanta feliz todo dia santo porque desfruta de empregos dignos e bem remunerados. Quero pintar uma gravura à óleo de uma "World Cup Brazilian" vitoriosa, com notas da "grande pensadora" em segundo plano... Eu sou do Brasil... E admiro essa capacidade mansa, caótica e insípida de minha gente para a resignação... EU SOU BRASILEIRO... E O MEU BRASIL SÓ É PERFEITO AOS OLHOS DE QUEM O QUER VERDADEIRAMENTE BEM!
Éd Brambilla. CRÔNICA. 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário