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sábado, 31 de agosto de 2013

EDUCAR PARA QUÊ? EDUCAR PARA QUEM?


No Brasil atual, o fator 'educação', de um modo geral, tem passado por profundas transformações. Com o desenfreado avanço tecnológico, a internet com suas redes sociais ditando modismos de forma assustadora e, somando-se a isso, os canais abertos de televisão, onde as programações visam, em sua maioria, a audiência a qualquer preço, desprezando completamente o bom conteúdo, tem dificultado cada vez mais a relação entre alunos e sistema educacional. Na contramão desses fatores, estão os docentes, formadores de opiniões, preocupados com os rumos tomados pela formação cultural de seus alunos. É imprescindível pensar na educação, primeiramente, de forma primária. Onde começa o processo? O alicerce da educação está no seio familiar e na comunidade onde a mesma encontra-se integrada. É nesses ambientes que eclodem as primeiras palavras, conceitos, definições e, principalmente, as diferenças entre o certo e o errado. Os pais, em primeira instância, são o espelho de seus filhos, e são usados como referencial fora do âmbito familiar. A boa educação, enquanto fator social, está no respeito aos mais velhos, na obediência às Leis que regulam os direitos e deveres dos cidadãos, na polidez ao tratar vizinhos, amigos e desconhecidos, na consciência dos limites – físicos e psíquicos - de cada um, na tolerância para com a coletividade... E muitas destas impressões, positivas ou negativas, já estão enraizadas no histórico de vida das crianças quando atingem a idade escolar, o que pode facilitar ou dificultar o trabalho do primeiro docente. A educação, enquanto instituição social, tem demonstrado uma grande defasagem ao longo dos anos, e isso é perceptível na insatisfação de quem escolheu a docência como profissão. As baixas remunerações salariais, aliadas a uma vertente social onde o aluno - cada vez mais - tem se valido de uma falsa liberdade em sala de aula no sentido de ‘eu tenho a razão’, escolas e universidades privadas que estão proliferando por todo o país, com pouca ou nenhuma fiscalização por parte das autoridades competentes, trazendo para o mercado educacional profissionais desqualificados e com pouco ou nenhum senso crítico, tornam-se responsáveis pela formação cultural precária nos dias de hoje. De trinta a quarenta anos atrás, ser educador tinha uma conotação de admiração. Respeitava-se a hierarquia: diretoria versus coordenadoria versus corpo docente versus corpo discente. Hoje, no entanto, ser educador é lidar diariamente com um sentido pejorativo do termo, ao mesmo tempo em que é cobrada desse mesmo profissional a responsabilidade maior na formação de base, o que, historicamente, vem de um costume de longas datas. Mudanças urgentes precisam ser postas em ação. O grande dilema está em ‘por onde começar?’ Os professores, sozinhos, lutam contra a correnteza de um processo social que, a cada dia, mostra-se inverso à educação, o que se pode chamar de ‘deseducação sistemática’, onde a maioria confronta o saber com o poder aquisitivo. “Para que estudar tanto se posso ganhar um ótimo salário em profissões que exigem apenas uma mínima escolaridade?” – muitos argumentam – o que prova que é cada vez maior a ideia de que o ‘status social’ é a mola mestra da padronização de ideias. “Entender de literatura, gramática, verbos, tabuadas, cálculos, Inglês, para quê? A calculadora do computador é ótima com números; o editor de textos é exímio em gramática; e o ‘Google’ tradutor? Merece um prêmio Nobel, traduz todos os idiomas possíveis e impossíveis. Ler histórias ultrapassadas de Machado de Assis, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos e seus colegas de ofício, para quê? Existem as novelas, que nos ensinam a lidar com os adolescentes, que nos orientam quando precisamos nos livrar de nossos esposos e esposas quando não temos argumentos para entender que um casamento é sedimentado em mútua doação, e, o mais importante de tudo, novelas ensinam música, dança, ditam valores, expressões de linguagem e uma série de informações que são condenadas pelo sistema educacional”. Sendo assim, em muitos casos, embasada nesta linha de pensamento, é cada vez maior a pressão do sistema educacional para que seu corpo docente absorva as novas tendências e, não obstante, esse mesmo corpo docente ainda precisa equilibrar-se em dois seguimentos distintos: educar com consciência e reeducar com cautela. O mundo encolheu. A globalização é uma realidade. É preciso entender e usar a tecnologia de forma positiva. Não adianta querer parar o relógio da evolução. O educador da era tecnológica precisa ter preparo para lidar com as novas vertentes que ditam tendências, como a internet, por exemplo. É preciso compreender as novas necessidades do processo educacional, e o mais importante, é preciso saber identificar o que é nocivo à formação e desempenho de seus alunos e ter cautela e discernimento ao conduzir ou propor uma transformação de ideias e conceitos. Existe um elo muito estreito entre os processos de ensinar e aprender que, como qualquer relação, depara-se com conflitos de ordens diversas. Portanto, é preciso muito cuidado com a análise de desempenho de um docente em relação às possíveis dificuldades de aprendizagem de seus alunos. Ao que se sabe, o sistema educacional cobra metas a serem cumpridas por seus profissionais para a obtenção de resultados positivos em exames oficiais, como o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), que integra o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior), por exemplo, e, no entanto, oferece pouco ou nenhum suporte para que esses mesmos profissionais passem por uma reciclagem periódica no processo de ensinar. Sendo assim, há que se ter muito cuidado ao responsabilizar esta ou aquela camada do sistema educacional. A responsabilidade é solidária e precisa ser entendida como uma ‘colcha de retalhos’, onde todas as partes estão interligadas, desde as relações entre alunos, familiares e comunidades, alunos e seus mestres, mestres e seus coordenadores educacionais, coordenadores educacionais e Secretarias de Educação e, por fim, Secretarias de Educação e Ministérios de Educação. Somente assim será possível vislumbrar uma luz no fim do túnel, caso contrário, sempre perdurarão os questionamentos: Educar para quê? Educar para quem?


Éd Brambilla. CRÔNICA. Educar para quê? Educar para quem? 20/08/2013.

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