No Brasil
atual, o fator 'educação', de um modo geral, tem passado por profundas
transformações. Com o desenfreado avanço tecnológico, a internet com suas redes
sociais ditando modismos de forma assustadora e, somando-se a isso, os canais
abertos de televisão, onde as programações visam, em sua maioria, a audiência a
qualquer preço, desprezando completamente o bom conteúdo, tem dificultado cada
vez mais a relação entre alunos e sistema educacional. Na contramão desses fatores,
estão os docentes, formadores de opiniões, preocupados com os rumos tomados
pela formação cultural de seus alunos. É imprescindível pensar na educação,
primeiramente, de forma primária. Onde começa o processo? O alicerce da
educação está no seio familiar e na comunidade onde a mesma encontra-se
integrada. É nesses ambientes que eclodem as primeiras palavras, conceitos,
definições e, principalmente, as diferenças entre o certo e o errado. Os pais,
em primeira instância, são o espelho de seus filhos, e são usados como
referencial fora do âmbito familiar. A boa educação, enquanto fator social,
está no respeito aos mais velhos, na obediência às Leis que regulam os direitos
e deveres dos cidadãos, na polidez ao tratar vizinhos, amigos e desconhecidos,
na consciência dos limites – físicos e psíquicos - de cada um, na tolerância
para com a coletividade... E muitas destas impressões, positivas ou negativas,
já estão enraizadas no histórico de vida das crianças quando atingem a idade
escolar, o que pode facilitar ou dificultar o trabalho do primeiro docente. A
educação, enquanto instituição social, tem demonstrado uma grande defasagem ao
longo dos anos, e isso é perceptível na insatisfação de quem escolheu a
docência como profissão. As baixas remunerações salariais, aliadas a uma
vertente social onde o aluno - cada vez mais - tem se valido de uma falsa
liberdade em sala de aula no sentido de ‘eu tenho a razão’, escolas e
universidades privadas que estão proliferando por todo o país, com pouca ou
nenhuma fiscalização por parte das autoridades competentes, trazendo para o
mercado educacional profissionais desqualificados e com pouco ou nenhum senso
crítico, tornam-se responsáveis pela formação cultural precária nos dias de
hoje. De trinta a quarenta anos atrás, ser educador tinha uma conotação de
admiração. Respeitava-se a hierarquia: diretoria versus coordenadoria versus
corpo docente versus corpo discente. Hoje, no entanto, ser educador é lidar
diariamente com um sentido pejorativo do termo, ao mesmo tempo em que é cobrada
desse mesmo profissional a responsabilidade maior na formação de base, o que,
historicamente, vem de um costume de longas datas. Mudanças urgentes precisam
ser postas em ação. O grande dilema está em ‘por onde começar?’ Os professores,
sozinhos, lutam contra a correnteza de um processo social que, a cada dia,
mostra-se inverso à educação, o que se pode chamar de ‘deseducação
sistemática’, onde a maioria confronta o saber com o poder aquisitivo. “Para
que estudar tanto se posso ganhar um ótimo salário em profissões que exigem
apenas uma mínima escolaridade?” – muitos argumentam – o que prova que é cada
vez maior a ideia de que o ‘status social’ é a mola mestra da padronização de
ideias. “Entender de literatura, gramática, verbos, tabuadas, cálculos, Inglês,
para quê? A calculadora do computador é ótima com números; o editor de textos é
exímio em gramática; e o ‘Google’ tradutor? Merece um prêmio Nobel, traduz
todos os idiomas possíveis e impossíveis. Ler histórias ultrapassadas de
Machado de Assis, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos e seus colegas de ofício,
para quê? Existem as novelas, que nos ensinam a lidar com os adolescentes, que
nos orientam quando precisamos nos livrar de nossos esposos e esposas quando
não temos argumentos para entender que um casamento é sedimentado em mútua
doação, e, o mais importante de tudo, novelas ensinam música, dança, ditam
valores, expressões de linguagem e uma série de informações que são condenadas
pelo sistema educacional”. Sendo assim, em muitos casos, embasada nesta linha
de pensamento, é cada vez maior a pressão do sistema educacional para que seu
corpo docente absorva as novas tendências e, não obstante, esse mesmo corpo
docente ainda precisa equilibrar-se em dois seguimentos distintos: educar com
consciência e reeducar com cautela. O mundo encolheu. A globalização é uma
realidade. É preciso entender e usar a tecnologia de forma positiva. Não
adianta querer parar o relógio da evolução. O educador da era tecnológica
precisa ter preparo para lidar com as novas vertentes que ditam tendências,
como a internet, por exemplo. É preciso compreender as novas necessidades do
processo educacional, e o mais importante, é preciso saber identificar o que é
nocivo à formação e desempenho de seus alunos e ter cautela e discernimento ao
conduzir ou propor uma transformação de ideias e conceitos. Existe um elo muito
estreito entre os processos de ensinar e aprender que, como qualquer relação,
depara-se com conflitos de ordens diversas. Portanto, é preciso muito cuidado
com a análise de desempenho de um docente em relação às possíveis dificuldades
de aprendizagem de seus alunos. Ao que se sabe, o sistema educacional cobra
metas a serem cumpridas por seus profissionais para a obtenção de resultados
positivos em exames oficiais, como o Enade (Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes), que integra o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior), por exemplo, e, no entanto, oferece pouco ou
nenhum suporte para que esses mesmos profissionais passem por uma reciclagem
periódica no processo de ensinar. Sendo assim, há que se ter muito cuidado ao
responsabilizar esta ou aquela camada do sistema educacional. A
responsabilidade é solidária e precisa ser entendida como uma ‘colcha de
retalhos’, onde todas as partes estão interligadas, desde as relações entre
alunos, familiares e comunidades, alunos e seus mestres, mestres e seus
coordenadores educacionais, coordenadores educacionais e Secretarias de
Educação e, por fim, Secretarias de Educação e Ministérios de Educação. Somente
assim será possível vislumbrar uma luz no fim do túnel, caso contrário, sempre
perdurarão os questionamentos: Educar para quê? Educar para quem?
Éd Brambilla. CRÔNICA. Educar para quê? Educar para quem? 20/08/2013.
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