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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A DOR DA FRUSTRAÇÃO


Ele amava o impossível na esperança de um milagre. Preso a esta possibilidade, construiu uma história de ilusões. Pode ser que o que sentia não fosse amor, obsessão talvez. E como explicar tamanha saudade e desejo? É um mistério que permanecerá oculto em sua essência. Quando reencontrou a personificação de sua desilusão, sentiu uma indiferença a se projetar do coração em forma de dor. Talvez tenha sido a dor da perda de um sentimento que nem mesmo ele conseguira decifrar. O diálogo entre ambos não passou de um rompimento do silêncio, com palavras soltas no ar. Ele, hoje, quer apenas protestar e reivindicar seus direitos. Será que está no auge de uma insanidade mental? E o que importa isto agora? Sente-se completamente evasivo e sem valores. Está jogando fora a própria identidade. Que se abra o chão até as profundezas do inferno! Que jorrem as labaredas de fogo! Que lavas do purgatório o derretam! Mas que antes lhe seja permitido conhecer o verdadeiro sentido da vida. Que lhe seja concedido decifrar os mistérios do sobrenatural. Acabou-se o tempo de sorrisos dissimulados e conversas medíocres. Caso contrário, que lhe venha a desintegração temporal, sem dor, sem demora. O prêmio de agradecimento: destruição da humanidade com todo o seu ódio acumulado. É que ele quer causar inveja ao Diabo. E depois chorar, e depois se rir do vazio sinistro que sua explosão catastrófica causaria. E estariam solucionados todos os problemas dos covardes, famintos, desagregados, e de toda a parafernália que é a humanidade. 



Éd Brambilla. A DOR DA FRUSTRAÇÃO. 1995.

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