Ele amava o impossível na esperança de um
milagre. Preso a esta possibilidade, construiu uma história de ilusões. Pode
ser que o que sentia não fosse amor, obsessão talvez. E como explicar tamanha
saudade e desejo? É um mistério que permanecerá oculto em sua essência. Quando
reencontrou a personificação de sua desilusão, sentiu uma indiferença a se
projetar do coração em forma de dor. Talvez tenha sido a dor da perda de um
sentimento que nem mesmo ele conseguira decifrar. O diálogo entre ambos não
passou de um rompimento do silêncio, com palavras soltas no ar. Ele, hoje, quer
apenas protestar e reivindicar seus direitos. Será que está no auge de uma
insanidade mental? E o que importa isto agora? Sente-se completamente evasivo e
sem valores. Está jogando fora a própria identidade. Que se abra o chão até as
profundezas do inferno! Que jorrem as labaredas de fogo! Que lavas do
purgatório o derretam! Mas que antes lhe seja permitido conhecer o verdadeiro
sentido da vida. Que lhe seja concedido decifrar os mistérios do sobrenatural.
Acabou-se o tempo de sorrisos dissimulados e conversas medíocres. Caso
contrário, que lhe venha a desintegração temporal, sem dor, sem demora. O
prêmio de agradecimento: destruição da humanidade com todo o seu ódio
acumulado. É que ele quer causar inveja ao Diabo. E depois chorar, e depois se
rir do vazio sinistro que sua explosão catastrófica causaria. E estariam
solucionados todos os problemas dos covardes, famintos, desagregados, e de toda
a parafernália que é a humanidade.
Éd Brambilla. A DOR DA FRUSTRAÇÃO. 1995.
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