Quando se é jovem demais, acredita-se piamente que tudo ao redor é um
“para sempre”, e tudo o que se quer tem que ser em um “agora”. É de um
imediatismo sufocante. “O Primeiro Grande Amor”, em geral, vem recheado com
essas ilusões. Sofre-se incondicionalmente como se o resto da vida estivesse
atrelado a esse sentimento. Felizmente, o tempo, apesar de implacável, é sábio,
sabe nos fazer pensar no instante certo. E quando aquieta-se a alma para uma
reflexão, um outro “Primeiro Grande Amor”, que também será para sempre, já
tomou conta do coração. E neste dói-não-dói de amor intermitente, a vida se
desenrola em um ritmo compassado. Mas o Tempo, implacável e sábio, passa; e se
ri quando nos revela que, em qualquer tempo, tudo o que se quer ainda continua
embasado no sonho do “Para Sempre”. É que hoje recebi a notícia da morte do meu
“Primeiro Grande Amor Para Sempre”. Senti um frio raso no estômago, um “Amor
Morto” pela segunda vez. E a primeira vez foi um homicídio executado por mim,
eu, assassínio do meu “Primeiro Grande Amor”. Mas garanto que foi legítima
defesa, e deste fardo não careci sofrer e nem pagar pena pesada. Foi pena
sutil: esquecimento de momentos felizes e de carícias que seriam “Para Sempre”.
A sutileza guarda armadilhas que, a princípio, não nos damos conta. Mas hoje,
contra minha vontade, fiz uma constatação: não sofri como deveria sofrer; nem
as lágrimas me vieram; e este fato me chocou profundamente. Eu queria “quase
ter morrido” de tristeza e dor d' alma. Nada, absolutamente NADA. Falta de sensibilidade?
Não, apenas indiferença. Assim como se é indiferente à notícia do telejornal
que diz que a Moça fora cruelmente assassinada pelo namorado porque esta lhe
negara o amor. Ama-se “Para Sempre” e pela “Primeira Vez” quantas vezes forem
necessárias; isso é fato. Mas a “Primeira Vez de Verdade” é toda especial:
Aprende-se a lidar com os desejos, os prazeres, as emoções, os medos... É um
grande e derradeiro aprendizado para os próximos “Grandes e Primeiros Amores
Para Sempre”. Mas desta vez não tive culpa; Meu “Primeiro Grande Amor” arrancou
friamente de si a própria vida. O abstrato concretizou-se, morreu para o mundo
e morreu dentro de mim pela segunda vez. E desta culpa estou livre, não me cabe
pena alguma. Que o “Grande Deus” lhe tenha misericórdia. Que o sofrimento
necessário seja brando, e que a pena seja breve, pois que, na brevidade do
tempo, somos estrelas com tempo contado. E cada minuto futuro é uma chance que
se tem para mudar o minuto passado, caso seja imprescindível. Veja Só como o
tempo é realmente sábio: dá-nos oportunidade para modificarmos o que,
porventura, nos tenha feito sofrer. Mas para a morte não existe o minuto
seguinte, ou existe? Mas esta última é questão delicada e sigilosa, que não
cabe neste momento. O que cabe aqui é uma resignação e uma inconformidade
neutras, onde o que parece verdade absoluta deixa de ter fundamento num e
noutro momento. Resta-me então o que se segue: Adeus “Meu Primeiro Grande Amor
de Verdade!” Desejo-lhe Paz e Perdão! Os que me vivem me compreenderão; os que
apenas me conhecem saberão que é dor, afinal, o amor é igual para todos.
Éd Brambilla. CRÔNICA. TODO AMOR É PRIMEIRO E É PARA SEMPRE. 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário