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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

AUTORRETRATO

Quando descobri que estava "doente de amor" e não "amando", restaram-me duas opções um tanto óbvias: ser corroído por uma pseudo-esperança ou mergulhar no fundo de minha essência. Com muito esforço e tempo consegui direcionar meu olhar para a segunda opção; resgatei a mim mesmo, e, como um valente salva-vidas, com um braço enlacei meu pescoço e com o outro impulsionei corpo e Espírito para a superfície. Como no Mito da Caverna, de Platão, quase enlouqueci com a forte luz do dia; quase retornei várias vezes para os recônditos da alma. Ah! mas que força medonha se criou em mim com o passar dos anos! Foi como se todos os sentimentos bons e também os disfarçados de bons - de tanto se chocarem - tivessem criado uma nova potência em meu ser, cujo nome não se pode batizar. Tudo o que se transforma dentro de cada pessoa é inominável, pois se trata de uma redenção de um deus-não-sei-o-quê-interior e não-universal. É de cada um e para cada um essa tal potência; é como identidade digital, não existe uma que se iguale à outra. E foi a partir dessa consciência que meus olhos voltaram a sentir prazer com os raios do sol; que a minha Vontade, pregada com não sei quantos pregos de desesperança, de tanto esperar um socorro externo, rasgou-se toda para libertar-se, e, ainda que destroçada e sangrando nas arestas, arrastou-se heroicamente até encontrar um pequeno arbusto, que, apesar de sua pequena copa, sabia amar com veemência. E foi com esse sopro de amor que minha Vontade, aos poucos, conseguiu se regenerar, ainda que a parca sombra do valente arbusto tivesse de ser dividida com tudo o que estava doente em mim. E não eram poucos os sentimentos corrompidos que precisavam de um pouco de refresco, de um remendo aqui e outro ali. Enquanto meu Espírito ressonava, Vontade e Potência-Minha regeneraram todos os cortes e recortes de minha Essência e me devolveram o Todo que eu tinha abandonado por puro medo de duelar com a Vida. Foi então que, rindo de aleluia, tive um insight: a Vida jamais quis duelar comigo. Como é que se pode duelar com o que nos permite respirar?! "Insano” – refleti, "Eu ESTOU insano!..." E me pus a rir até doer-me o estômago. E comigo se puseram a rir todos os meus sentimentos, os meus medos, o Espírito... Até minha Vontade mijou-se toda de tanto gargalhar. Tudo girava num redemoinho de expurgação. Tudo o que era ruim, o redemoinho expurgava para uma espécie de labirinto onde aprisiona-se tudo aquilo que faz a vida sangrar em dor. Quando o redemoinho se dissipou, o que ficou foi o cerne puro do que me move. A Vida não havia me abandonado nem um segundo sequer. Ela sempre esteve dentro de mim. Eu é que, "doente de amor", passei a enxergá-la de fora para dentro. Eu estava literalmente fora de mim, e, ingenuamente, desafiava a minha própria vida. Ah! que alívio foi quando meu Espirito – adormecido – abriu os olhos num puro bocejo de uma pessoa que acorda e diz "Estou pronta de novo!" e percebeu que voltara a olhar de dentro para fora. "Estou salvo" – pensei. E tanto os olhos físicos quanto os metafísicos deixaram mais de não sei quantas mil lágrimas escorrem pela face e, da face, por todo o corpo – o físico e o metafísico. "EU CONSEGUI! NÓS CONSEGUIMOS!" – gritava a boca calada a tanto tempo. "Agora SOU novamente; Vontade-Minha está aqui dentro do meu peito, até então ressequido, fazendo o sangue jorrar incessantemente do coração para o meu TODO." – sussurrei para dentro de mim mais lentamente, mais convicto de que eu tinha finalmente me livrado da sobrevida e o que me movia novamente era a minha boa e velha companheira VIDA. Eu já podia caminhar conforme minha Vontade novamente
LIBERDADE é o nome do que me habita agora, e, dentro de mim, sou totalmente livre para ser o que a minha imaginação me permite ser.
Bem-vindas ao seu verdadeiro lar, Vontade e Força minhas!

Éd Brambilla. CRÔNICA. Ou seria uma Carta (?). AUTORRETRATO. 10.01.2016.

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