Senti uma vontade tão grande de dizer umas verdades!... Na verdade, são algumas
singelas constatações: é especificamente sobre alguns, digamos,
"intelectuais", e não intelectuais também, que discriminam aqueles
que gostam de ver novelas de televisão, alguns estilos musicais, obras
consideradas não literárias... E
apregoam um monte de besteiras intelectualistas. Bem, vejamos: vou citar apenas
três grandes clássicos da Literatura: AMOR DE PERDIÇÃO, de Camilo Castelo
Branco; O PRIMO BASÍLIO, de Eça de Queirós; e MADAME BOVARY, de Gustave
Flaubert. A primeira obra é do Romantismo português, a segunda é do Realismo,
também português; e a terceira é do Realismo francês. Vamos lá!... Os três
romances citados são recheados de tudo o que se vê em telenovelas:
dissimulações sociais, mentiras, muita intriga, crimes, violência, preconceito (étnico, de classe social, patriótico, etc.), apologia ao suicídio,
e, principalmente, adultério. E muito mais coisas que caberiam aqui, mas não
quero encher o texto com questões que todos já conhecem "na ponta da
língua". Mas cabe aqui um silogismo
muito repetido por aí, como uma grande frase de efeito (oh, que criativo!), que
diz o seguinte: "A VIDA IMITA A ARTE
E A ARTE IMITA A VIDA".
"Muito bom!". Ora, então por que existem as discriminações no mundo
das “artes”? Exatamente porque preconceito não se cria, copia-se: DA VIDA.
"Funk", "rap", "axé", "novela",
"romances piegas”, etc. e etc.. Tudo isso está aí: inserido no mundo; estampado
na VIDA. É do cotidiano; é de todos. Tem arte para todos os gostos. E tudo
promove ARTE. Classificar “isso” como bom e “aquilo” como lixo é um grande erro
– preconceito “burro”. Para repetir outra frase de efeito: A ARTE É SUBJETIVA; o
preconceito também o é! Palavrões e erotismo em canções do “populacho”
moderno?! Ora, busque por cantigas de escárnio e maldizer do Trovadorismo. São cantigas
recheadas de palavrões e erotismo; algumas beiram a pornografia. Promover, por
exemplo, a admiração pela Literatura e o ódio pela telenovela, reverenciar um
estilo de música e desprezar a outro... Tudo isso é uma grande imbecilidade. Em
vez disso, é mais plausível buscar conhecimento sobre cada uma das modalidades
de arte, e, com isso, descobrir as diferenças, as intertextualidades, e, principalmente,
as semelhanças entre elas. Tudo na vida está interligado. A nós compete apenas
ligarmos os pontos; deixar aflorar aquilo que mais tem a ver com a nossa
personalidade. Tudo o que está aí já estava pronto quando chegamos. Há, principalmente,
espaço para o novo. Se nada agrada, crie você mesmo o seu estilo; sem “apontar
o dedo acusador” para outras direções. Enfim, entender o mundo é a melhor forma
de combater o preconceito. Mãos à obra, então! Vá conhecer!... É isso o que
torna uma pessoa politicamente correta, inteligente e interessante.
Éd Brambilla. CRÔNICA. Sobre as artes. 23/10/2014.
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