CHUVA DE PALAVRAS

Foi num sonho... E aconteceu assim: caminhava eu num bosque muito verde por uma linda sebe margeada por margaridas brancas... De repente avistei uma casinha de madeira, bucólica, com uma chaminé que esfumaçava em forma de pequenas nuvens... Bati à porta... Ninguém a abriu... Percebi que a porta estava entreaberta... Entrei... Meus olhos lacrimejaram com o interior do casebre... Muitas estantes abarrotadas com livros contendo os segredos da vida e da humanidade... Escolhi um cuja capa tinha a foto de Jesus Cristo... Era um livro muito extenso... No sonho, tudo acontece num tempo diferente... Li muito rapidamente todo o conteúdo... E então, do lado de fora, começou a chover... Tive vontade de tomar banho de chuva... Em meio à chuva, fiquei um tempo tentando entender o que estava acontecendo... Não era água que caía das nuvens - estas formadas pela fumaça da chaminé da casinha... Eram palavras... Milhões delas... Umas muito duras... Outras macias, carinhosas... Num dado momento olhei para a copa de um arbusto... Havia um livro sobre a pequena copa... Abri-o... Estava em branco... Era o livro de minha vida... Sei disso porque na capa estava escrito: SUA VIDA!... Fiquei assustado... Mas compreendi o sinal: eu poderia reescrever minha trajetória... O Universo estava me dando outra chance... Com uma espécie de imã para atrair palavras, fui eu recolher palavras da chuva que caía... Eu as recolhia e as ordenava em frases... Depois em parágrafos... Até formar um grande e lindo texto... E tudo eu ia lançando para dentro do livro em branco... Ao final, respirei fundo, e, com um sorriso na alma, disse para mim mesmo: "Assim agora será minha vida!..." Tive a chance de reescrevê-la desse ponto em que me encontro até ao final dela... E pude também determinar o meu tempo de vida... Escolhi viver 105 anos... Agora sei que terei um futuro mais tranquilo...

Éd Brambilla. Crônica. CHUVA DE PALAVRAS. 25/11/2014.