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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A REVOLTA DA PANELA DE PRESSÃO


Teria sido mais um dia como outro qualquer na cozinha se não fosse o tal pino de segurança da panela de pressão. Como de costume, eu ia fazendo tudo ao mesmo tempo: lavando o que ia sujando de louça, refogando o arroz e cortando os legumes. E a panela lá... Só esperando o momento certo para se rebelar. Alguns minutos depois, assim que “pegou pressão”, o pino vermelho voou e a panela se pôs a esguichar o que tinha de líquido dentro dela como se fosse um potente “Geisel”. Vejam que ousadia, uma panela com alma de “Geisel”! O meu primeiro impulso foi o de cravar o pino de volta no orifício de onde nunca deveria ter saído. E fiz isso com a mão direita completamente nua; e juro que não senti nenhuma dor. Eu teria conseguido resolver o problema se não fosse o fato de minha irmã, trajando apenas calcinha e camiseta, feito uma ensandecida correndo de uma bala perdida, não tivesse passado como um foguete em direção à porta da sala que dá acesso ao corredor social do prédio, este monitorado por câmeras de segurança. E atrás dela, Lilica & Leleca, as yorks, correndo e gritando feito umas doidas também. Eu, desorientado que sou, imaginei que o quarto delas (de minha irmã e das yorks, minha gente) estivesse desabando. Não pensei duas vezes, soltei o pino e sai correndo atrás de todo mundo, aos berros. Quando descobri que era a panela o motivo daquele desespero todo, inclusive o meu, embora eu não soubesse que o era, voltei para a cozinha - meio cabreiro - e desliguei o fogo. Esperei até que a panela desafogasse toda a sua revolta (na verdade, acredito que seja mágoa o que ela estava sentindo; e tenho certeza que foi depois que ela me ouviu dizer para uma outra irmã, que já estava na hora de trocá-la) e, quando restaram apenas umas tossidas fracas de doente prestes a deixar o corpo, peguei-a pelo colarinho e a coloquei dentro da pia, com a torneira aberta. Uma chuveirada fria sempre é bom para curar histeria. Passado o susto, tudo voltou ao normal, inclusive a panela de pressão, que voltou para o fogo para terminar o que ela sabe fazer melhor que qualquer outra panela: cozinhar o feijão. E deixei bem claro que eu não toleraria outra pirraça. Mostrei a ela que não tenho medo de revoltas. Quanto a minha irmã, adverti: o porteiro da noite com certeza divertiu-se muito com a sua correria, sem contar que deve ter ficado maravilhado com a sua “bunda”.



Éd Brambilla. Crônica. A REVOLTA DA PANELA DE PRESSÃO. 16/09/2014.

Um comentário:

Silvia Lina disse...

Belíssima descrição de um caos... que acontece com um em cem. Fico pensando que cem milhões... rs... E, é tão apavorante, quanto patético. Parabéns, estive de espectadora, com tamanha desenvoltura na sua escrita.