No Ceará,
nada melhor que entregar-se a uma rede preguiçosa para suportar com dignidade o
calor típico, principalmente para quem, assim como eu, não vê com bons olhos os
aparelhos de ar-condicionado. Certa noite, eu estava na rede da varanda do
andar superior da casa que me acolheu e, da rua, ouvia uma conversa entre
senhoras. No Ceará, elas se acomodam em cadeiras nas calçadas e falam sobre o
que é possível. Pelo menos foi o que vi em
Trairi. As horas parecem mais longas, o que torna a vida
mais esticada e a morte mais distante. E era sobre vida e morte que elas
falavam. O que me obrigou a prestar atenção no assunto foram as seguintes
pérolas ditas pelas senhorinhas: “Quem vive doente não morre; só morre quem
está bom” – disse uma delas. Nisso, outra complementou: “Isso é bem verdade
comadre; meu cunhado é doente desde sempre; o peste passa de cem e não quer nem
saber; já papai, coitado do bichinho, tinha uma saúde de ferro e tinha orgulho
de nunca ter precisado de médicos; caiu duro de nada no chão; e no chão ficou,
mortinho, mortinho.” Confesso que fiquei preocupado com a teoria. Talvez seja
viável – e vital – que se arranjem algumas enfermidades. Parece que no Ceará é
assim que se dá a longevidade.
Éd Brambilla. Crônica. AS SENHORINHAS. 18 de Fev. de 2013.
2 comentários:
Curiosa teoria, e não é que pode ser certa?
Esses diálogos e essas pérolas sempre são excelentes, tanto em matéria de entretenimento, como também nos rende boas ideias para escritos. Gostei muito da crônica. Gostei do blog também.
Até mais ler...
Olá... Muito obrigado pela visita... Sinta-se em casa em meu blog... Espero sinceramente que as impressões d' alma aqui impressas possam de alguma forma faze-lo alegre e de alma leve. NAMASTÊ!
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