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sábado, 11 de maio de 2013

As Senhorinhas


No Ceará, nada melhor que entregar-se a uma rede preguiçosa para suportar com dignidade o calor típico, principalmente para quem, assim como eu, não vê com bons olhos os aparelhos de ar-condicionado. Certa noite, eu estava na rede da varanda do andar superior da casa que me acolheu e, da rua, ouvia uma conversa entre senhoras. No Ceará, elas se acomodam em cadeiras nas calçadas e falam sobre o que é possível. Pelo menos foi o que vi em Trairi. As horas parecem mais longas, o que torna a vida mais esticada e a morte mais distante. E era sobre vida e morte que elas falavam. O que me obrigou a prestar atenção no assunto foram as seguintes pérolas ditas pelas senhorinhas: “Quem vive doente não morre; só morre quem está bom” – disse uma delas. Nisso, outra complementou: “Isso é bem verdade comadre; meu cunhado é doente desde sempre; o peste passa de cem e não quer nem saber; já papai, coitado do bichinho, tinha uma saúde de ferro e tinha orgulho de nunca ter precisado de médicos; caiu duro de nada no chão; e no chão ficou, mortinho, mortinho.” Confesso que fiquei preocupado com a teoria. Talvez seja viável – e vital – que se arranjem algumas enfermidades. Parece que no Ceará é assim que se dá a longevidade.


Éd Brambilla. Crônica. AS SENHORINHAS. 18 de Fev. de 2013.

2 comentários:

Masturbação Mental disse...

Curiosa teoria, e não é que pode ser certa?
Esses diálogos e essas pérolas sempre são excelentes, tanto em matéria de entretenimento, como também nos rende boas ideias para escritos. Gostei muito da crônica. Gostei do blog também.

Até mais ler...

Éd Brambilla disse...

Olá... Muito obrigado pela visita... Sinta-se em casa em meu blog... Espero sinceramente que as impressões d' alma aqui impressas possam de alguma forma faze-lo alegre e de alma leve. NAMASTÊ!