Estava a refletir sobre a beleza e delicadeza de Orfila, mulher. Esta reflexão
me levou a pensar em Orquídea que, segundo a escritora Clarice Lispector, no
romance Água Viva, 'é uma flor de redoma que já nasce artificial,
portanto, já nasce arte'. Esta lembrança automaticamente me levou a fazer
comparações entre Orquídea e Orfila. Não fora difícil encontrar a primeira
diferença entre ambas: Orquídea tem o peso do plural e Orfila a leveza da
singularidade. Orquídea nasce arte. Orfila se faz arte. Orquídea versus Orfila:
enquanto a primeira se mostra ao mundo como flor de rara beleza, a segunda se
fecha ao todo como rara beleza de flor. Orquídea é flor. Orfila é idéia de
amor. Não resistente às comparações, fiz um enxerto: retirei da riqueza de cores
da 'flor-arte' uma fusão de suas tonalidades. Obtive uma cor única. Juntei à
esta fusão medida certa de mistério e encantamento contidos. Extrai de Orfila
um pouco de essência de mulher e um pouco do caráter que encontramos somente em
verdadeiros mestres. Tudo minuciosamente equilibrado. Criei por enxerto uma
nova espécie de flor: uma Orfídea. Sim, uma Orfídea é completamente singular.
Orquídeas são flores que se deixam comprar em qualquer casa de flores. Orfídea
é tão rara e tão cara que é de graça. Mas não se enganem: poucos são os que
possuem sensibilidade suficiente para enxergá-la. Orfídea é invisível a olhos
nus. Enxerga-se apenas com olhos d’alma. Orfídea, a flor única, é de sentir-se
com os olhos cerrados e o coração em estado de amor. O grande segredo de
Orfídea é não ter raízes. Foi criada para escolher seus próprios jardins. Flor
única de jardins vários, sabe o momento de mostrar-se por inteira. Tem
consciência de seu poder alucinógeno, que se torna perigoso aos duros de
coração. É preciso verdade para vislumbrá-la, por isso é secreta e cuidadosa.
Orfídea, por ser una, perpetuar-se-á através de seus conhecimentos transmitidos
aos privilegiados de sensibilidade. Estará sempre presente em cada coração que
se permitir abrir em amor. E estes corações, por lealdade,
transmitirão a essência de Orfídea para outros corações, que transmitirão para
outros, em um círculo mágico e rítmico. Promovo neste instante final um duelo
entre Orquídea e Orfídea:
Orquídea:
bela e suntuosa,
plena de raiz
Orfídea:
singela e despretenciosa,
em simplicidade de flor-de-lis
Exala a Orquídea
o doce inebriante
Oculta a Orfídea
o néctar secreto esfusiante
É a Orquídea para tantos
e a Orfídea para encantos
Doce Orquídea e
intrigante Orfídea
Orquídea,
Orfila,
Orfídea
À mestra Orfila, uma mulher que encanta.
Éd Brambilla. CRÔNICA. ORFÍDEA: UMA FLOR INVENTADA. 2010.
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