Éd Brambilla
APRESENTA:
2015
SUMÁRIO
De autor para leitor ..,,...,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, p. 3
CapítuIo I - “Colha o dia!”, o encontro ................................................. p. 4
Capítulo II - Amigos estressados
........................................................... p. 8
Capítulo III - A
“BARRREIRA DE CONES” ................................... p. 13
Capítulo IV – Com quantos
policiais se faz uma barreira? ................. p. 16
Capítulo V (último) - E tudo acabou
em “pizza”, ou melhor, em “videoquê” .............................................................................................................. p. 18
De
AUTOR para LEITOR:
O
trio de amigos “Láu, Léo e Lia” são completamente desorientados e cômicos, cada
um a sua maneira. Numa certa noite de maio de 2006, na passagem de um sábado para um domingo, os três resolvem cantar num “videoquê”. O que
nenhum deles sequer imaginava era que a noite estava completamente movimentada
com a guerrilha entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e a polícia. E é
nesse contexto conturbado que tudo pode acontecer, porque Laura, Leonardo e
Liana são AMIGOS FORA DE FOCO.
CAPÍTULO I
“COLHA O DIA!”, O ENCONTRO
“COLHA O DIA!”, O ENCONTRO
Sábado, 13 de maio de 2006, 8:00h:
Leonardo
encontrava-se ainda em estado de sonolência quando o telefone tocou e, como o
rapaz nutre grande paixão por antiguidades, o barulho do aparelho assemelha-se
a um daqueles despertadores à corda de um tempo que não volta mais. Num
sobressalto, ainda com a voz em estado de recomposição, ele atendeu ao chamado
e balbuciou um “Alô!” num tom de embriaguez. Do outro lado da linha, Laura, uma
amiga de longa data, devolveu-lhe à realidade com um sonoro “Bom-dia amigo!”
-Estou em
casa procurando o que fazer – disse Laura. -Ah! Também está aqui comigo uma
amiga que acabou de chegar do Rio de Janeiro para passar uns dias em
Campinas; que tal fazermos algo hoje à noite?
-A ideia
não é ruim, mas... Tudo bem, às nove da noite está bom para vocês? – propôs logo
Leonardo para não estender a conversa. É que ele tem preguiça de pensar nos
primeiros instantes do acordar.
-Combinado!
Às nove em ponto estaremos em seu apartamento – finalizou Laura, percebendo que
Leonardo ainda oscilava entre sono e sonho.
-Um grande
beijo, amigo!... Mais tarde conversaremos lucidamente.
-Eu também estou com saudade - ironizou Leonardo.
-Eu também estou com saudade - ironizou Leonardo.
20:00h:
Durante o
resto do dia nada de anormal acontecera depois do contato telefônico. À noite,
porém, exatamente às oito horas, o interfone tocou e o porteiro do condomínio
anunciou a chegada das amigas.
-Claro,
explique às moças como chegar ao meu apartamento – pediu Leonardo ao porteiro.
Passados
quase dez minutos, as amigas encontravam-se no “hall” de entrada do bloco onde
fica o apartamento. Como mora no último andar e não há elevador no prédio,
Leonardo desceu os oito lances de escadas para receber as convidadas
resmungando qualquer coisa do tipo: -Estas escadas me fazem odiar receber
visitas! - mas era apenas força de expressão, pois, se houvesse um concurso de
anfitrião do ano, Léo com certeza receberia o primeiro prêmio... O
segundo, talvez... Tudo bem, o terceiro.
-Que
saudade de você, amigo! – disse Laura enquanto abraçava o amigo – ou melhor dizendo, esmagava-o, visto que a moça deve ter pelo menos uns trinta
quilos a mais que Leonardo.
-E-eu
tam-também es-estou mu-muito fe-feliz em vê-la!
-Ah,
“olha só”, esta é Liana – abraçada à moça –, a amiga da qual te falei, mas pode
chamá-la por Lia; ela prefere que seja assim, caso contrário, fica uma fera.
-Prazer,
amigo! A Lau fala muito de você, parece até que te conheço há anos – “cariocou”
Liana, ou melhor, Lia, vai que ela realmente se transforme numa fera. Se
dependesse da imaginação de Leonardo, isso bem que seria possível.
É incrível como toda vez em que duas pessoas são apresentadas, uma delas, ou as duas, sempre diz ou dizem sentir uma intimidade de anos. Seria esta uma forma de estreitar laços, ou, como dizem por aí, uma forma de “quebrar o gelo”?
É incrível como toda vez em que duas pessoas são apresentadas, uma delas, ou as duas, sempre diz ou dizem sentir uma intimidade de anos. Seria esta uma forma de estreitar laços, ou, como dizem por aí, uma forma de “quebrar o gelo”?
-Lia, vou
logo avisando – adiantou Leonardo –, fazer qualquer passeio comigo é risco de
morte; não sei se a Láu te falou, mas se existe alguém neste mundo que atrai
situações malucas, este alguém sou eu – e, para completar, o rapaz pediu para
que o chamassem por Léo.
E assim estava formado o trio: Láu, Léo e Lia.
E assim estava formado o trio: Láu, Léo e Lia.
-Amigas,
vocês seguem na frente e eu na retaguarda; são oito lances de escadas – disse
Léo já absorvendo o “carioquês” das amigas enquanto, em tom de riso, apontava
para a escadaria.
-“Caracas”,
amigo! Lá no “morro” essas escadas são “rolantes” pra mim.
-Como
assim? Você mora em cima de uma montanha?!
-Léo,
você não está falando sério, está?
-Qual o
problema de alguém morar no cume de uma montanha, Laura? Eu conheço um alguém
que mora dentro de um vagão de trem... Só estou tentando imaginar o número de
degraus que a Lia precisou construir para alcançar a casa dela.
-“Tu
falou” que ele era meio maluco, Láu... Mas agora tenho certeza de que teu amigo
é maluco por inteiro.
-Amigo, a
Lia mora numa “comunidade” que fica no “Morro do Tabajara”, lá para os lados de
Copacabana, entendeu?
Leonardo
nem rubro ficara, mas não lhe sobrou alternativa senão “cair na gargalhada” e
sentar-se no chão para que o riso não lhe fizesse doer o estômago.
A maioria das pessoas sempre faz isso: senta-se para gargalhar. Gargalhar causa “dor-de-estômago”? E se não existisse o estômago? Será que as pessoas somente ririam? E as deliciosas gargalhadas, não existiriam? Viva o estômago!
A maioria das pessoas sempre faz isso: senta-se para gargalhar. Gargalhar causa “dor-de-estômago”? E se não existisse o estômago? Será que as pessoas somente ririam? E as deliciosas gargalhadas, não existiriam? Viva o estômago!
-Levanta
logo daí, “amigo”! Vamos subir para o seu apartamento de uma vez por todas
porque ainda quero sair pra cantar “Total eclipse of the heart” em algum
“videoquê”.
-Você
nunca me disse que gostava de cantar em “videoquê”, Láu! Que história é essa de
“vídeoquê”?
-Tem
muita coisa a meu respeito que você ainda não sabe, Léo... Portanto, vê se não
demora pra ficar pronto... Eu sei muito bem o tempo que você leva no banho... Já são quase dez horas, daqui a pouco a Lia fica estressada e
acabaremos por não fazer nada.
-Eu não
fico estressada, Láu! Você é quem me tira do sério com sua tranquilidade de
monja tibetana.
-“Caracas”,
Lia! Eu não sou tão tranquila da forma como você está dizendo... O meu
estresse é para dentro, senão ficamos as duas em estado de histeria... Eu apenas
tento equilibrar as situações.
-Então
você está dizendo que eu sou a histérica?! Vamos embora agora mesmo! Não
quero mais saber de “videoquê” e nem de qualquer outro “quê”!
-Meninas,
vocês têm certeza de que gostam realmente uma da outra?
As moças se entreolhavam desafiadoramente. Aconteceria ali um duelo de verdades e inverdades?
As moças se entreolhavam desafiadoramente. Aconteceria ali um duelo de verdades e inverdades?
-Lia, meu
anjo, “tu” é “marrenta” demais! Para logo com esse “piripaque” e acelera o
passo senão o Léo vai pensar que a doida aqui é você.
-Doida?!
Então eu sou a doida?! Você ainda não viu nada! Vou mostrar pra você quem é a
doida!
-Parem
com isso! – gritou Léo – Eu declaro que as duas são doidas... E declaro também
que aqui não é um manicômio, é um condomínio de apartamentos... Portanto, se
as duas não se comportarem, vou chamar a “carrocinha”...
-“Carrocinha”?!
– perguntaram-se as amigas em uníssono.
-Isso
mesmo, a “carrocinha”.
-Amigo,
que negócio é esse de “carrocinha”? Lá no “Rio”, eu conheço o “caveirão”... Mas carrocinha?! Eu nunca ouvi falar... Você conhece, Láu? Para que serve essa tal
de “carrocinha” por aqui?
-É um
carro parecido com um camburão; a diferença é que em vez de
carregar ladrões, carregam-se cachorros-loucos.
-Cachorros-loucos?!
– novamente em uníssono as amigas.
-“Tu
acha” que a Lia e eu somos cadelas?! Estou horrorizada com você, Léo!
-Eu não
quis dizer que as duas são cadelas; apenas quis dizer que as duas são doidas,
histéricas, “marrrentas”... Não apenas uma ou outra...
-Querem
saber de uma coisa? Vamos esquecer essa história de “carrocinha”, “caveirão”,
camburão... Eu quero é cantar... Estou doida de vontade de cantar “Total
eclipse of the heart”... – tentou encerrar o assunto Laura.
-Ah, então você concorda? – retrucou Lia. -Ouviu, Léo? Ela é a doida, não sou eu...
E ainda tem a “cara-de-pau” de confessar... Escutei muito bem.
-Meninas,
discutam a relação de vocês outro dia... Discutir relação dá “dor-de-cabeça”...
Hoje é dia de festa... Sábado é dia de festa... Enquanto eu tomo uma boa ducha,
vocês ficam na sala me esperando... Tem cerveja na geladeira... Fiquem à
vontade e bebam o quanto quiserem... Assim, ficarão mais relaxadas.
-Tomar
muita cerveja também dá “dor-de-cabeça”, mas é melhor que “discutir relação”...
“Dor-de-cabeça” de ressaca de cerveja dá para curar com uma boa “aspirina”, não
é verdade, dona Lia?
-Se você
está dizendo, então é... Não quero mais discutir... Quero beber até ficar
embriagada.
CAPÍTULO II
AMIGOS ESTRESSADOS
Sábado, 13 de maio de 2006, 21:30h:
CAPÍTULO II
AMIGOS ESTRESSADOS
Sábado, 13 de maio de 2006, 21:30h:
Os vinte
minutos que Léo prometera ficar no banho duraram quase uma hora. Quando
finalmente declarou-se pronto para a “balada”, o rapaz encontrou as amigas
rindo uma da outra... A outra da “uma”... E as duas de Léo.
-Eu não
acredito! Vocês não estão bêbadas, estão? Ah, não! Levantem agora mesmo desse
sofá e vamos procurar um bar que tenha “videoquê”... Minha irmã me emprestou o
carro.
-Que
“maneiro!” Tua irmã é muito gente boa... Escutou, Lia? A Lú, irmã do Léo,
emprestou o carro dela pra gente.
-Lú de
que, Léo?... De Luana?
-Não,
Lia... Lú de Lucélia... Ela está para chegar; a Láu já a conheceu.
-
“Caracas”, até que enfim vou conhecer uma Lucélia... Só conheço mesmo a Lucélia
Santos, a atriz.
-Você
conhece a Lucélia Santos?! – espantou-se Leonardo. -Que legal! Quando eu for
para o “Rio”, você me apresenta para ela?
-Não
posso, “amigo”!
-Por quê?
-Não sei
onde ela mora.
-Mas você
disse que a conhece!
-Amigo,
até a China conhece a Lucélia Santos.
-Ah,
“meus sais”! E eu ainda dou “trela” para você, Lia... Vamos esperar minha irmã
no estacionamento... Assim ganhamos tempo.
-Ai, ai!
A Lia está acostumada com os milhares de degraus da “comunidade”... Mas eu,
coitada de mim, tenho preguiça até de elevador – resmungou Laura.
-Láu, o
mundo não é cor-de-rosa para todos... Seria muito bom se você conhecesse o mundo
em outros tons – censurou Leonardo. -Você deveria fazer um “tour no morro” com
a Lia.
-Isso até
eu quero ver! – comemorou Lia. -A Láu, no “morro”?! Ela só conhece, mesmo, o
Leblon, Recreio, Barra... Só o lado glamouroso do “Rio”.
-Isso é verdade,
Lia? – questionou Léo desacreditado. -Eu que nunca fui ao “Rio”, adoraria conhecer a
comunidade da Rocinha, a Vidigal... Pode ser a “Tabajara”, já que você mora lá.
-Quando
tu quiser, amigo – respondeu Lia toda orgulhosa. -Tu vai até engrossar esses seus cambitos de
tanto subir e descer escada – e caiu na gargalhada.
-Você
está me chamando de magricela?! – ofendeu-se Leonardo já empacando no “hall” que dá
para as escadas.
-Ah, não!
Discussão de novo, não! Eu nem quero perder o meu tempo explicando qual é a cor
do meu mundo, gente! Enquanto vocês dois estavam aí, pintando o mundo, a Lú
chegou – interrompeu Láu. –Vi aqui da janela quando ela chegou... Está
esperando a gente lá embaixo.
-Meninas,
a noite nos espera!
-Viva!!!
– comemoraram os três ao mesmo tempo, enfrentando as escadas animadamente.
-Descer
escadas não é tão ruim, assim... Pior é subi-las – disse Lia. -Lá no “morro”
tem até “mototáxi” pra quem tem preguiça de subir escadas... E “olha só”, custa
apenas um real.
-Então
quando eu for te visitar, Lia, a Láu e eu poderemos fazer uso desse
“mototáxi”... O que você acha, Láu?
-Sou a
favor da lei do mínimo esforço – respondeu a moça. -Viva o transporte alternativo!
Lucélia
encontrava-se na entrada do prédio a espera de Leonardo e as amigas:
-Prazer
em conhecê-las! Meu nome é Lucélia... Peço desculpas por não ficar mais tempo
com vocês... Estou com um pouco de pressa... É que tem uma festa me esperando
no “Bloco E”.
-"Caracas",
tu parece até o Léo no jeito de falar... Toda cheia dos salamaleques – já foi
logo despejando Lia despachadamente.
-Lú, não
dê trela a Lia..., Ela fala o que pensa sem medir as palavras.
-Não tem
problema, gosto de pessoas sinceras – considerou Lucélia.
-Vamos
para um “videoquê”... Devolvo o carro por volta das quatro horas da manhã, tudo
bem? – explicou Leonardo para a irmã.
-Aqui
está a chave do carro... Tome cuidado com multas e principalmente ladrões.
-Fique
tranquila, o lugar é bem policiado – tranquilizou Leonardo a irmã.
Ah, se
Leonardo soubesse o quanto esta noite estava sendo realmente bem policiada! Certamente teria ficado em casa. Na noite de sexta-feira, doze de maio, o “PCC”,
que é uma sigla para designar “Primeiro Comando da Capital”, uma organização
criminosa e muito poderosa do Estado de São Paulo, estava atacando, com bombas
e armamentos bélicos, postos policiais e bases militares, num confronto que
estava mobilizando o país. Leonardo, alguns dias antes do fato, e até àquele
momento, praticamente não havia visto televisão, ouvido rádio ou lido
jornais. Ele trabalha em repartição pública e o mês de maio é de grande
correria por conta do prazo de entrega da Declaração de Imposto de Renda de
Pessoa Jurídica, o que o deixara alheio ao que estava acontecendo ao redor de
seu mundo de números e contas e quimeras.
TRECHO DE UM NOTICIÁRIO DO SITE UOL, EM 12 DE
MAIO DE 2006:
“Marcelo
Gutierres, em São Paulo
Sexta-feira,
12 de maio: anoiteceu em São Paulo. E iniciava-se a maior onda de violência já
promovida no Estado por uma facção criminosa, o PCC (Primeiro Comando da
Capital), conhecido entre os detentos como o “Partido”. Em oito dias, o
governou contou 373 ataques. Oficialmente, 154 pessoas morreram, sendo 24 PMs,
11 policiais civis, 9 agentes penitenciários, 110 cidadãos – 79 deles suspeitos
de ligação com o PCC [...]”
E é nesse
clima de desordem que nossos heróis completamente “fora de foco” estão prestes
a viver uma inusitada e perigosa aventura em frente a uma base da Polícia
Militar, nos confins da Avenida Rebouças, em Sumaré, São Paulo.
VOLTANDO AOS AMIGOS, AINDA NO ESTACIONAMENTO DO
CONDOMÍNIO DE LÉO:
-Amigo,
qual o nome desta cidade? – perguntou Liana.
-Sumaré.
-Sumaré.
-O quê?
“Suma” o quê? Que nome estranho! De onde saiu esse nome?
-E ‘Morro
do Tabajara’? Também não é um nome estranho, Lia? – respondeu Léo com ironia.
-Léo,
esquece a Lia e “pé na tábua”... Quero um “videoquê”... Quero cantar Total
Eclipse of the heart – lembrou irritantemente Láu. - Tem algum aqui, em Sumaré?
-Que eu
saiba, não... Mas sei de um que fica em Nova Odessa, uma cidade que faz divisa
com Sumaré... Basta irmos pela Avenida Rebouças... No final dela, já em Nova
Odessa, tem um barzinho com “videoquê”.
-Muito
bem, amigo! Então é pra lá que vamos... Quero cantar até perder a voz.
-E a
compostura, também – completou Lia.
-Por que
a Láu perderia a compostura, Lia? – quis saber Léo
-Léo,
querido, quando a Láu resolve beber, ela não toma “umas”... Toma “duas”,
“dez”... E o quanto aguentar.
-Você
está me chamando de “cachaceira”, Lia?
-Não, meu
amor! Apenas estou querendo dizer que você é... Hum... Como eu poderia
dizer?... 'Empolgada com a bebida’.
-Meninas,
faremos uma combinação: beberemos os três até ficarmos completamente
alucinados... Estou mesmo precisando de uma boa extravagância – meneou e minou
Léo uma possível nova discussão de relação entre as amigas.
-E quem
voltará dirigindo?
-Ah, Lia!
Vamos deixar esse detalhe para resolvermos depois... Primeiro o problema, depois, a solução.
-“Boa”,
Léo! Gosto de pessoas de atitude. – disse Laura.
-E sem
responsabilidade, não é verdade? – resmungou Liana.
-Cala a
boca, Lia! – gritaram Leonardo e Laura ao mesmo tempo.
E não é
que Leonardo já começava a perder a paciência com Liana?!
CAPÍTULO
III
A “BARRREIRA DE CONES”
22:10h:
A “BARRREIRA DE CONES”
22:10h:
Enquanto
Lucélia, a única personagem aparentemente mais sensata desta história, se
preparava para a festinha no "Bloco E", o trio de amigos
"sem-noção", Láu, Léo & Lia, iam de encontro ao argumento que deu
margem para a criação desta narrativa.
JÁ NA AVENIDA REBOUÇAS:
(Turn
around...) – no rádio do carro.
“Bright
eyes...” – Láu aos berros.
(Turn
around…) – no rádio do carro.
“Bright
eyes...” – Léo aos berros.
(Turn
around) – no rádio do carro.
“Every
now and then / I know you’ll never be the boy / You always wanted to beeeeee”…
– Láu e Léo aos berros (sobrepondo Bonnie Tyler).
-CALEM A
BOCA, PELO AMOR DE DEUS! – Gritou Liana descontroladamente. -Vocês estão me
“gastando”, é?! – fazendo uso de uma gíria para dizer que os amigos estavam testando a sua paciência.
-Gente! –
espantou-se Léo. -Essa sua amiga é sempre assim, tresloucada, Láu?
-Amigo,
fica tranquilo! É só botar um “funk pancadão que ela fica
boa na hora. – e botou para tocar no rádio do carro “Tchutchuca Treme o
Bumbum”, do DJ Martins.
E a
música, feito droga alucinógena, tomou conta (possuiu) da amiga Liana, que se
comportou feito uma doidivanas no banco de trás do carro:
“Tchutchuca
treme o bumbum, treme, treme, treme... Tchutchuca treme o bumbum, treme, treme,
treme...” – pôs-se a esgoelar-se Lia, ao mesmo tempo em que, ajoelhada no banco do
carro, de costas para Láu e Léo, tremelicava alucinadamente os glúteos e
repicava o quadril ora para cima, ora para baixo. A doidice de Lia era tanta que,
na metade da música, ela degringolou a girar a cabeça freneticamente, fazendo com
que a cabeleira loura dela repicasse para todos os lados.
-Meu
Deus, Láu! Sua amiga está bem?! – quis saber Léo completamente estupefato com a cena.
(Láu às
gargalhadas): -Amigo, vai se acostumando...É disso pra pior!
E não é
que Liana, mesmo no meio da alucinação do “pancadão”, ouviu a colocação da
outra?!
-O QUÊ?!
– berrou a "funkeira". –Você está me envenenando pro Léo, dona Laura?! É isso mesmo, eu
ouvi bem?! – e tentou revidar a amiga: -Pois também tenho “uns podres” seus pra
contar.. Fique sabendo, Léo... – e foi interrompida pelo próprio rapaz.
-NÃOOO!...
Discussão de relação de novo, NÃOOO! – gritou ainda mais alucinadamente
Leonardo, completamente fora de foco. –Eu só quero chegar logo no videoquê!
Calem as matracas, as duas, PELO AMOR DE DEUSSS!
-EU QUERO
CANTAR “TOTAL ECLIPSE OF THE HEARTTT”! – berrou ainda mais forte Láu.
-CALA
ESSA BOCA, LÁUUU! – gritaram Lia e Léo ao mesmo tempo.
-Gente,
eu só quero cantar... – tentou argumentar Laura, e, antes de dizer pela
centésima vez o título da música que – Jesus seja louvado! – nem mesmo eu, o
autor desta maluquice, aguento mais ouvir, Léo berrou com toda a força de seus
pulmões:
-PUTA QUE
O PARIU, LAURA!... VOCÊ E ESSA BONNIE TYLER... VÃO PARA O DIABO QUE AS
CARREGUE! CHEGAAA!
Um
silêncio profundo tomou conta do interior do veículo. Porém, como toda
tranquilidade dura o suficiente para recuperar e fôlego, Laura avistou uns
cones interditando a Avenida Rebouças quando já estavam bem próximos da
delegacia da cidade.
-Léo,
amigo, olha só... Tu vai ter que virar à esquerda porque tem uma barreira
fechando a avenida... – precaveu a amiga que quer muito cantar... Bom, todos
sabem o que ela quer cantar.
Léo olhou
para além da barreira de cones e avistou um carro (estacionado em frente à
delegacia, e, certamente, de algum funcionário que encerrava o expediente) que
manobrava para sair. Depois, percebendo que faltavam dois cones na formação da
barreira e que seu veículo, bastante estreito, passaria tranquilamente,
avançou sem a menor cerimônia.
-Amigo,
tem alguma coisa estranha acontecendo! – advertiu Laura quando o carro já havia
avançado uns quatro metros pelo local interditado.
De
repente, Liana, no banco de trás do carro, entrou num estado de histeria tão
assustador, que Leonardo e Laura simplesmente desviaram toda a atenção do que
estava acontecendo do lado de fora do carro para o banco onde Lia se segurava
como podia: a moça simplesmente havia arrancado o tampão do porta-malas do
carro (interno) e estava com metade do corpo dentro do compartimento; as bandas
da bunda enroscadas no apoio de cabeça do banco traseiro do pequeno “corsa”,
pareciam duas gelatinas num daqueles tremores de terra que devasta uma cidade
inteira; a perna direita, sufocada dentro de uma meia-calça do tipo “arrastão”,
fazia com que o pé chutasse incessantemente a parte de trás do banco dianteiro
onde estava sentado Léo; e, por fim, a perna esquerda fazia com que o pé
chutasse a parte de trás do banco onde estava sentada Láu. E tudo o mais eram
frases soltas que ecoavam dentro do veículo sem o menor sentido para Léo e Láu:
-AI, MEU
DEUSSS! EU NÃO QUERO MORRERRR! EU NÃO QUERO MORRERRR! PELO AMOR DE DEUSSS, PARA
ESSE CARROOO! – esgoelava a moça do bumbum que tremelica mais que gelatina.
-Láu, o
que eu faço? Devo parar o carro para socorrermos a Lia? – quis saber Léo
completamente tranquilo, de tão assustado que estava com a cena. E antes que
Laura pudesse responder o que quer que fosse, um berro de comando ainda mais
forte ecoou do lado de fora do automóvel:
-CESSAR
FOGOOO! NÃO ATIREM, NÃO ATIREM!... FECHA LÁ NA FRENTE... RÁPIDO, RÁPIDO...
CESSAR FOGOOO!
Quando
Léo escutou o grito de comando, olhou o mais rápido que pode para a direção de
onde o som havia vindo. Como não avistou absolutamente nada além de outros
cones que formavam outra barreira (desta vez não faltavam cones) ao término da
fachada da delegacia, obrigatoriamente virou o carro à direita, e,
repentinamente, empalideceu de horror. Sentiu toda a espinha dorsal
congelar-se. Láu, petrificada, jogou as mãos contra o rosto e gritou:
-CARALHO,
MANO! FODEUUU!
CAPÍTULO IV
COM
QUANTOS POLICIAIS SE FAZ UMA BARREIRA?
22:30h:
22:30h:
Ao
avistar mais uma barreira a sua frente (formada por vinte policiais militares),
Leonardo freou o carro bruscamente. O barulho do pneu derrapando no asfalto
zumbiu até nos ouvidos dos mortos do Cemitério Municipal da Saudade, localizado
a pouca distância do ponto em que tudo acontecia, na Avenida Rebouças.
Laura, num impulso automático, abriu a porta do carro do seu lado e, com as
mãos na cabeça, correu para a calçada gritando o mais alto que podia:
-Sou
inocente!... Sou inocente!... Que é isso, mano?!... Que é isso, mano?!
Liana,
ainda mais veloz - e inacreditavelmente -, desvencilhou as nádegas dos encostos
de cabeça do banco traseiro do “corsa”, pulou por cima de Leonardo, pisoteando
e esmagando os pobres genitais do rapaz, e saltou (Pela janela da porta do
motorista, minha gente!) para fora do veículo transportador de gente doida.
Quanto a Léo... Pobre, maluquinho! Completamente estático, o alienado rapaz
apontou o dedo indicador da mão direita e se pôs a contar com quantos policiais
se faz uma barreira. Ele contou dez “PMs” abaixados e dez em pé, na retaguarda
dos primeiros. E todos... TODOS, minha gente!, apontando fuzis para os nossos
heróis “fora de foco”.
-Jesus,
Maria, José, Buda e Maomé!... Que putaria é essa?!” – disse baixinho Leonardo
para si mesmo. E tentava entender, dentro de suas concepções de mundo – ou pelo
menos nas possibilidades infinitas de seu mundo –, que diabos estava acontecendo
ali.
-Não, não
é possível! – e o coração de Léo começou a disparar à medida que se pôs a
imaginar coisas tenebrosas para explicar o que não conseguia entender:
-Será que
tem um corpo de velhinha, ou o que sobrou dela, enroscado no parachoque do
carro?! Será que tenho dupla personalidade e um dos meus “eus” é um gangster?!
Ou um “serial killer”... ou... – e antes que pudesse listar mais uma dezena de
possibilidades, sentiu a ponta do cano de um fuzil encostar no lado direito de
sua cabeça. Uma voz ordenou:
-Não faça
nenhum movimento brusco! Saia do carro com as mãos atrás da cabeça! Repito: não tente escapar! Você não sairá vivo daqui se tentar qualquer atitude
desesperada.
Pobre,
Leonardo! Com as mãos atracadas ao volante e o olhar congelado na direção da
barreira de policiais, apenas balbuciou:
-Seu
policial, eu posso ligar para a minha mãe?
O
policial – na verdade o sargento do “cessar fogo!” –, quando ouviu as trêmulas
palavras pronunciadas por Léo e percebeu que de sua face escorriam algumas
lágrimas de medo, condoeu-se inexplicavelmente:
–Meu nome
é Sargento Ulisses – apresentou-se calmamente o homem, ao mesmo tempo em que
segurou a mão esquerda de Leonardo e disse com delicadeza:
-Venha,
rapaz, eu te ajudo a sair do carro.
Liana,
essa outra doida de pedra, dentro de um salto de sei lá quantos centímetros de
feminilidade exagerada, andava de um lado para o outro da calçada e jogava a
cabeleira loura para um lado e para o outro (um verdadeiro furacão da natureza
inerente à mulher guerreira que cresce numa “comunidade” de cidade grande). E
gritava:
-Que
porra é essa?! Eu nasci e cresci no morro do tabajara, no meio de traficante e
polícia invadindo e quebrando geral... Já levei susto com “presunto” caído bem
na porta do meu barraco quando eu saia cedo pra trabalhar... É isso mesmo, vou
morrer aqui, nesta merda de cidade?!
-Acalme-se,
moça! – disse uma policial a alguns metros de Liana.
-Calma, o
caralho! Tá me gastando, é? – retrucou a insana “funkeira” do bumbum tremelicante.
Laura, na
calçada do outro lado da rua, em pé, com dois policiais fazendo o trabalho de
“dar geral”, berrou:
-Cala a
boca, peste dos infernos! Quer morrer, morra... Mas morra sozinha, caralho!
Liana, ao
se dar conta de que a amiga estava sendo revistada por homens – e como Laura
trajava calça “jeans”, camiseta, casaco do tipo “eu sou motoboy” e boné do time
do “Corinthians” –, descontrolou-se ainda mais:
-Porra, caralho! Ela é mulher! Tá me ouvindo?! Mulherrr!!! Tu não pode por as mãos em cima
dela, tá me entendendo?!
A essa
altura, a barreira de policiais havia se dispersado completamente. Ulisses, o
sargento, fez sinal para que os seus subordinados homens da lei voltassem aos
seus postos. E fez isso com o dedo indicador direito girando ao redor da orelha
direita.
CAPÍTULO V (ÚLTIMO)
E TUDO ACABOU EM “PIZZA”, OU MELHOR, EM
CAPÍTULO V (ÚLTIMO)
E TUDO ACABOU EM “PIZZA”, OU MELHOR, EM
“VIDEOQUÊ
-Bem,
agora que a situação está começando a tomar um rumo – disse calmamente o sargento Ulisses para o ainda confuso Leonardo – o senhor, por favor,
acalme-se e saia do carro... Preciso fazer algumas perguntas para que também
eu entenda o que está acontecendo.
-Seu
Policial, o senhor vai me prender? – perguntou Léo com os olhos lacrimejados.
–Eu não posso ser preso, tenho fobia só de pensar em ficar dentro de uma cela.
-Não,
rapaz (engolindo uma gargalhada), você não está sendo preso... Na verdade,
ainda não sei se é o caso... Precisamos conversar.
Leonardo
lentamente desprendeu as mãos do volante do carro e, com pernas abobadas, saiu
de dentro do veículo... Buscou amparo no capô do motor e entregou-se ao
inquérito do homem da lei.
-Qual o
seu nome, rapaz?
-Leonardo
– respondeu gelidamente um dos “amigos fora de foco”.
-Você tem
noção do perigo que você e suas amigas correram ao avançar a barreira para
proteger a delegacia?
-Que
barreira, seu sargento?!
-Aquela
barreira – respondeu o homem apontando para uma sequência de cones.
-Mas no
meio da barreira faltavam dois cones – retrucou Léo. -Calculei bem e conclui
que o carro passava tranquilamente... Então avancei - tentou argumentar - Isso é motivo para que
fôssemos metralhados, senhor policial?!
-Meu
filho, estamos em guerra! – respondeu o sargento bastante irritado. -Você não
lê jornais, não vê televisão, rádio?! O PCC já atacou várias bases militares no
Estado de São Paulo... Seus aliados já mataram diversos companheiros nossos.
Leonardo,
boquiaberto, cruzou os braços, olhou seriamente para o policial e inquiriu taciturno:
-O que
vocês fizeram para eles, seu Ulisses?
-Você só
pode ser louco, não é possível... O PCC é uma Organização criminosa muito
poderosa e extremamente violenta... São bandidos, entendeu?! Bandidos!!!
-Hum... –
fez Léo. –Eu só conheço o CVV... De PCC eu nunca ouvi falar, não senhor.
-O que é
exatamente CVV? – perguntou o sargento. –Nunca ouvi falar dessa Organização.
-Não,
sargento, não é uma quadrilha de bandidos – respondeu prontamente o rapaz, e explicou: -CVV
é uma ONG... Significa “Centro de Valorização da Vida” – e emendou: -Quando
eu fico deprimido, ligo lá para desabafar e... – antes que continuasse com a
explicação, o sargento arrancou o quepe da cabeça e lançou-o furiosamente ao
chão e, com os olhos ardendo de raiva, também ele entrou em estado de histeria.
-Puta que
o pariu!!! Hoje era pra ser minha folga... Merda de vida! Essa porra de PCC
está fodendo o meu dia, hoje.
Leonardo
olhou para Láu e Lia e, juntos, os três deram de ombro, como se exclamassem:
“Que sujeito mais esquisito, este sargento!”
Ulisses, então, contou até três, respirou fundo e recuperou a postura de homem da lei... E mais um diálogo desconexo ganhou vida, ou melhor, palavras:
Ulisses, então, contou até três, respirou fundo e recuperou a postura de homem da lei... E mais um diálogo desconexo ganhou vida, ou melhor, palavras:
-Eu
preciso dos seus documentos... Carteira de motorista e documento do veículo –
recomeçou o Sargento.
Leonardo
retirou o documento de habilitação de sua e carteira e entregou-o a Ulisses.
-E o
documento do veículo, senhor... – o policial fez uma pausa e conferiu o nome de
Léo na carteira de motorista e, espantado, perguntou: -Albuquerque?! Você é da
Família Albuquerque?!
-Sim! –
respondeu Léo engolindo uma gota de saliva cravejada de gotículas de cimento. E
disparou: -Já vou logo avisando, se tem algum “Albuquerque” mafioso à solta por
aí, eu não tenho nada a ver com isso e... – e antes que disparasse mais uma
tonelada de sandices, Ulisses o conteve:
-Meu
deus, rapaz! Como você fala, hein?! Parece uma metralhadora atirando palavras
para todos os lados – e, coçando o queixo, perguntou a Léo:
-Você é
parente do General Gaudêncio Albuquerque?
Leonardo
– muito esperto –, mesmo sem saber quem era o tal do general, percebeu que a
sorte se voltava para ele e, imbuído de uma oportuna confiança, respondeu ao
sargento com a maior naturalidade e intimidade (e cara-de-pau):
-Ó, é titio Gáu...
-E por
que não disse logo, rapaz?!
-Não,
Ulisses (já íntimo do sargento), eu não gosto de incomodar titio Gau... Ele é um
homem muito ocupado devido à sua posição militar e... – e novamente
interrompido por Sargento Ulisses:
-General
Gaudêncio está morto, rapaz... MORTO!... Entendeu?!
Leonardo,
mais branco que cera de vela para defunto, arregalou os olhos e, levando às
mãos à cabeça, pôs-se a lamentar-se com toda a verdade que lhe cabe dizer em
vida (Láu e Lia diriam, num bom ‘carioquês’, ‘caô’):
-Nãooo!
Meu deus! Pobre, tio Gáu... Morto?! Quando foi isso, sargento Ulisses?! (devolvendo a patente de sargento a Ulisses novamente).
-Você é
louco ou está zombando comigo, rapaz?!
-Nem uma
coisa nem outra, seu Ulisses.
-Sargento
– corrigiu o policial.
-Claro,
desculpa... Tudo tem uma explicação, seu sargento Ulisses... – e deitou
falação: -Eu morei muito tempo no Paraná... Me mudei para cá, Sumaré, tem quase
três anos (meia verdade)... Minha família praticamente perdeu o contato com tio
Gaudêncio...
-Sei, sei...
– fez desconfiadamente o policial. –Esquece o Senhor Gaudêncio... Quero o
documento do veículo!
-Não sei
onde está o documento, seu-senhor-sargento Ulisses... – respondeu Leonardo em
desespero.
-Como não
sabe? Este carro – com a mão esquerda espalmada no capô dianteiro – não é do
senhor?!
-Não,
senhor! É do meu sobrinho.
-Neste
caso, ligue imediatamente para o seu sobrinho e peça para ele trazer o
documento, agora! – esbravejou o policial já muito irritado.
Leonardo
olhou as horas - eram exatamente 23:20h – e informou ao policial:
-A estas
horas, senhor Ulisses? Não posso, ele está dormindo.
-Pois
então trate de acordá-lo, senhor Leonardo Albuquerque.
-Mas ele
deve ter acabado de ‘mamar’, senhor sargento... Minha irmã, Lucélia, vai brigar
comigo.
-MAMAR?!
Explica isso direito, pelo amor de deus! Estou perdendo a paciência com você,
mocinho!
(hum,
parece que o sargento está prestes a levar todo mundo para o xilindró)
-Ele é um
bebê, sargento... Tem apenas um ano e cinco meses... O carro está no nome dele
porque foi o pai dele... – e novamente Leonardo é interrompido por Ulisses, o
sargento.
-Chega!!!
Ou esse documento aparece aqui na palma da minha mão (apontando com a mão direita a mão esquerda) em dez minutos ou vai
todo mundo para o manicômio... E o carro vai para o pátio (local onde são
guardados os automóveis apreendidos).
-Eu... –
tentou falar Léo...
-Não!!!
Nem pense nisso... Você, rapaz, não sai daqui... Só libero uma das moças para
buscar o documento... O senhor fica aqui comigo... QUIETO! Entendeu?!
-Sim,
senhor! – respondeu Leonardo engolindo o que nem havia mais para engolir.
Laura,
que já havia visitado Léo uma primeira vez, encarregou-se da empreitada. Liana,
completamente histérica, tagarelava coisas incompreensíveis para um dos
policiais da "barreira humana" que apontou vários fuzis para Leonardo. E mesmo
que Lia estivesse completamente calma, ela não fazia a menor ideia de onde
estava.
-E quanto
a vocês dois – disse o sargento austeramente para Léo e Lia -,
sosseguem num canto e não me deem mais trabalho.
Os dois amigos entreolharam-se e balançaram afirmativamente a cabeça ao mesmo tempo.
Os dois amigos entreolharam-se e balançaram afirmativamente a cabeça ao mesmo tempo.
Enquanto
Ulisses sumiu por um corredor comprido da delegacia, Liana e
Leonardo foram chamados pelo escrivão para a conferência do relatório que
precisava ser assinado e enviado para o DETRAN (Departamento de Trânsito).
-Senhor
Leonardo, tem de constar a sua assinatura no relatório, já que era você o
condutor do veículo – disse o escrivão estendendo um calhamaço de papeis para
Léo.
-Sim,
senhor! – aceitou Leonardo sem pestanejar.
Enquanto Léo fazia a leitura do relatório, Liana olhou para o amigo e disse:
Enquanto Léo fazia a leitura do relatório, Liana olhou para o amigo e disse:
-Amigo...
‘Olha só’, eu estava aqui pensando... Se esse tal de PCC está ‘botando terror’
na ‘poliçada’, acho melhor a gente sair daqui... Vamos ficar bem longe deles...
-Hum...
Sabe que você tem toda a razão, Lia! – concordou Leonardo. E quando os dois
estavam saindo ‘à francesa’, o escrivão soltou um berro ensurdecedor e agudo:
-VOLTEM,
AQUI, AGORA!!!
Petrificados,
Léo e Lia voltaram rapidamente para o cantinho onde estava o escrivão e
grudaram as costas contra uma parede toda revestida de tijolinhos envernizados.
-Credo,
amigo... Essa ‘poliçada’ da sua cidade é toda surtada... – cochichou Liana para
Leonardo.
-A
senhorita disse algo? – perguntou o escrivão.
-Não,
senhor – respondeu rapidamente Léo no lugar de Liana. -Ela só estava me
dizendo que a decoração da delegacia é muito chique.
O
escrivão meneou a cabeça negativamente – na verdade, em pensamento, ele dizia
para si mesmo: “De que hospício saíram essas figuras?”
-Senhor
Leonardo, se o senhor já tiver terminado de ler o relatório, assine todas as
folhas e me entregue, por favor – disse agora mais calmo o homem.
-Na
verdade, seu escrivão, tem uns erros de português no texto que podem me
comprometer seriamente – advertiu Leonardo meio ressabiado.
-Não
importam os erros de português, seu moço! Assine logo esses papeis – retrucou o
escrivão.
-O
senhor, por favor, pode me arranjar uma folha de papel em branco? – pediu Léo.
O
escrivão, desinteressadamente, entregou o que Leonardo pedira. Depois de
escrever uma frase no papel, entregou-o ao homem e disse: -Leia a frase que eu
escrevi, por favor.
“Se o rei
o condenou, eu não o perdoo” – leu em voz alta o escrivão.
-Faça de
conta, seu escrivão, que essa frase é uma mensagem que um rei está enviando
para um carrasco executar um condenado através de seu mensageiro. Faça de
conta, também, que o senhor é o mensageiro... E que o condenado é o seu melhor
amigo. Com uma única vírgula, o senhor pode salvá-lo, sabia?
-Hum –
fez o escrivão. –E onde é que eu ponho a vírgula? – perguntou para Léo.
-Depois
da palavra “não” – respondeu Leonardo. E pediu para que o escrivão lesse
novamente a frase. E assim o fez o escrivão:
“Se o rei o condenou, eu não, o perdoo.”
“Se o rei o condenou, eu não, o perdoo.”
-Entendeu,
agora, o que eu quis dizer? – disse Leonardo com o nariz todo empinado.
O
escrivão ficou todo interessado na questão das “vírgulas” e se pôs a rir. Na
sequência, chamou um colega que estava do outro lado da sala e disse:
-Venha ver, Antônio, que interessante! – e repetiu tudo o que Leonardo fizera
anteriormente com ele. E a história do salvamento do condenado, em pouco tempo,
tomou conta da delegacia.
-Posso
corrigir o texto, então, seu escrivão? – quis saber Leonardo.
-Claro,
por favor! Não quero que o senhor seja condenado à prisão perpétua por conta de
uma vírgula - respondeu o homem com o semblante todo irônico.
-E não é
qualquer vírgula – complementou Liana.
Uns dez
minutos depois, Laura chegou com o bendito documento do ‘corsa’ e o entregou a
um policial, e este foi rapidamente entregá-lo ao sargento Ulisses.
Papeis
assinados, vírgulas nos lugares certos, documento do carro em ordem... E tudo
voltou à normalidade... Pelo menos para a corporação da delegacia.
00:30h –
já era domingo:
O três "AMIGOS FORA DE FOCO” tomaram posse novamente do veículo e seguiram para o
“videoquê” localizado no final da Avenida Rebouças, a mesma avenida onde quase
foram fuzilados por vinte policiais.
8:00h:
(Turn
around...) – no rádio do carro.
“Bright
eyes...” – Láu aos berros.
(Turn
around…) – no rádio do carro.
“Bright
eyes...” – Léo aos berros.
(Turn
around) – no rádio do carro.
“Every
now and then / I know you’ll never be the boy / You always wanted to beeeeee”…
– Láu, Léo e Lia aos berros (sobrepondo Bonnie Tyler).
A manhã
estava de um céu incrivelmente azul. O sol resplandecia nos rostos –embebidos
de sono – dos três amigos. Eles cantarolavam com os corações alegres,
comemoravam o fato de simplesmente estarem vivos, de serem amigos e, também,
por serem ridiculamente felizes. Fizeram, por precaução, um caminho diferente na volta para casa. Não quiseram correr o risco de esperarem mais tempo para
desmaiarem de felicidade em suas camas.
Depois de
uma incrível aventura policial e uma agitada noitada num “videoquê”, nossos
heróis “sem noção” merecem a serenidade e a calma do bom e velho sono.
“A felicidade, muitas vezes, esconde-se no
ridículo que habita em nós. Infelizmente, imbuída de tantas regras,
etiquetas e salamaleques, a maioria das pessoas passa a vida disfarçando a
FELICIDADE.”
FIM
ÉD
BRAMBILLA. AMIGOS FORA DE FOCO. MINI-ROMANCE. 2015.
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