Aconteceu assim: passei algumas horas sem o dom para as coisas complexas
do processo humano, aquelas incompreensões que, quando vem, costumamos dizer:
"Nem Freud explica", o que revela tão somente nossa incapacidade de
compreensão. “Se Freud não explica, por que diabos eu tenho que saber?” Apenas
as coisas da grande criação me fizeram sentido, todas elas cheias de
explicações. Pequenas e grandes possibilidades da natureza divina, o que, por
si só, é uma dádiva. Então fui ter com as formigas - essas com asas. E me enchi
de encantamento: então formigas com asas – embora pequenas – são uma
possibilidade? Formigas com asas são anunciadoras de Deus. Sei disso porque a
esposa de um pescador contou-me que essas pequenas benfazejas são a própria
anunciação de uma chuva esperada com todo o respeito, e até com resignação às
vezes. E o mundo precisa de chuva, e precisa também de formigas aladas.
Formigas de menos é pouca chuva - um breve espirro de Deus. Formigas demais é o
excesso - é a chuva que arrasta tudo o que dá para ser arrastado. É a pura
cólera divina. É Deus descontente com sua criação secundária, porque também Ele
precisou expurgar de dentro de si as suas agruras. Só por esse motivo é que
Deus criou o Homem. E criou antes disso a natureza, sua grande inspiração. E
deixou o Homem aos cuidados dela. É pura vaidade humana a crença do processo
contrário. E é por isso que existem os terremotos e maremotos e as pragas e as
secas e as enfermidades. É a Natureza rearranjando o mundo face às desordens da
Humanidade. Deus é a própria Natureza, que cura e devasta. E cabe a cada um a
consciência da salvação, pois a responsabilidade de chegar até Deus é humana.
Deus não precisa do Homem. E não escolhe ninguém, e nunca escolheu. Nós é que
precisamos e temos a chance de escolhê-lo.
Éd Brambilla. Crônica. DEUS E AS
POSSIBILIDADES 19 de Fev. de 2013.
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