Fui ver minha mãe. Ela não estava em sua casa. Estava na casa ao lado, de sua amiga. Tomei café da tarde com as duas. Falamos
sobre a vida, a velhice e a morte. Ambas são viúvas, minha mãe com 72 anos e
sua amiga com 87 anos. Fiquei comovido com a amizade delas. Elas se precisam,
se consolam e, prestar atenção nestas duas amigas, me fez reafirmar a
importância de se ter ao menos um amigo que seja para a vida toda, para que
tenhamos ao menos uma pessoa que saiba de tudo o que já vivemos, que testemunhe
o quanto já tivemos sede de viver, de amar, de sonhar e de lutar. Elas sabem
que o tempo delas agora é contagem regressiva, que cada minuto é precioso, que
cada gesto de carinho vindo de outras pessoas, é, para elas, um prenúncio de
amor. Portanto, faço aqui um apelo: jamais maltrate ou exclua um idoso; jamais
tente arrancar deles sua dignidade; não os amontoem em asilos considerando que
estão fazendo o melhor para eles; isso não é verdade; ao menos uma vez na vida
vá a um asilo e se interesse em ouvir a história de pelo menos uma pessoa idosa.
Eu, como Massoterapeuta, estou cada vez mais apaixonado por essas pessoas tão
frágeis quanto uma criança. Tenho sentido muita alegria em poder proporcionar
algum tipo de alivio através da massoterapia. E não é preciso nenhuma
especialização para fazer bem a elas, basta respeitá-las, nada mais. Eu Tenho
ido a asilos, tenho visitado essas pessoas em suas casas. Se todos tivessem
noção do quanto essas pessoas fazem mais bem a nós do que nós a elas, adotariam
uma avó ou um avô, e os que já os tem, com certeza aprenderiam muito com eles.
Eu me senti importante com minha mãe e sua amiga porque uma disse a outra que
eu sou um menino-de-ouro . Confesso que meus olhos lacrimejaram, segurei para
não chorar. Em alguns momentos me revoltei quando percebi em ambas uma
resignação passiva devido ao fato de algumas pessoas fazerem 'pouco caso' (nas
palavras delas) pelo fato de serem idosas. Eu disse a elas que quando isso
ocorresse novamente, deveriam ignorar quem quer que fosse, ao que uma me
respondeu: "FILHO, A VELHICE TIRA DA GENTE TUDO QUANTO É DIREITO QUE
LEVAMOS UMA VIDA TODA PARA CONSEGUIR". Meu Deus! Que choque eu levei ao
ouvir isso. Que medo senti de envelhecer, não da velhice em si, mas da
realidade social de completo descaso que é reservada a quem, com muita luta e
coragem, conseguiu chegar a terceira idade. Tenho visto muitas campanhas em
prol dos animais, do meio-ambiente, disso, daquilo - louvável também. Mas
nossos idosos estão esquecidos. Lanço agora uma campanha: ADOTE UM IDOSO, caso
não tenha um. Não precisa levar para morar em sua casa, tampouco dar-lhes
dinheiro ou presentes, basta um pouco de atenção, de carinho, de proteção.
Basta faze-los sentirem-se importantes durante o tempo de sua visita. Eu
garanto que o maior benefício não será para eles e sim para você,
principalmente quando a velhice bater à porta de cada um. NAMASTÊ!
Éd Brambilla. Crônica. A AMIZADE NÃO
TEM IDADE. 2011.
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